Segunda, 04 Junho 2018 18:36

Conjuntura econômica as vésperas da negociação coletiva dos bancários

Economista, Mestre em Economia Política Internacional e Técnico do Dieese/SEEB RJ. Economista, Mestre em Economia Política Internacional e Técnico do Dieese/SEEB RJ.

Fernando Amorim 

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acaba de divulgar os resultados consolidados do Produto Interno Bruto (PIB) para o 1º trimestre de 2018. Com alta de 0,4% com relação ao 4º trimestre de 2017 e de 1,2% com relação ao 1º trimestre do ano passado, o resultado é um balde de água fria naqueles que patrocinaram o atual governo e sua política econômica. Após o crescimento de 1,0% em 2017 e um certo otimismo do “mercado” (falava-se em crescimento de 3,0% há pouco mais de 2 meses), os primeiros resultados de 2018 mostram que a realidade, de fato, não cabe em modelos estilizados.
Da mesma forma do que ocorreu em 2017, foi a agropecuária o principal vetor desse crescimento, enquanto indústria e serviços ficaram praticamente estagnados. Importante lembrar que o resultado do primeiro trimestre é - via de regra - puxado pela safra de alguns alimentos e que, no ano passado por exemplo, houve uma continua desaceleração no ritmo de crescimento ao longo dos trimestres subsequentes.
Do ponto de vista do mercado de trabalho, os dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD-IBGE) mostram que 12,9% da população estava desempregada no trimestre terminado em abril. Mais alarmante ainda é olhar o desemprego por faixa etária: 32,3% para aqueles que tem entre 18 e 24 anos e 34,2% na faixa etária compreendida entre 25 e 39 anos. No Rio de Janeiro a situação é ainda pior com 15% da população desempregada, uma informalidade crescente e um salto no número de miseráveis.
Outro fator a ser observado são as novas formas de contratação e desligamento permitidas pela reforma trabalhista. Nos primeiros meses de 2018 já é possível visualizar, por exemplo, um crescente no número de desligamentos por “acordo comum” entre empregado e empregador, assim como contratações por período parcial e contratos de trabalho intermitente. No emprego bancário, segue a tendência de corte com saldo negativo de mais 2.300 postos de trabalho só em 2018.
Os cortes, no entanto, não têm qualquer relação com eventuais problemas do setor. Os dados dos balanços dos cinco maiores bancos (Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa) no 1º trimestre, mostram crescimento geral no lucro que superam os R$ 20 bilhões, conjuntamente. Sempre importante lembrar que isso não se deve a recuperação no crédito, que apresentou pequena melhora para pessoa física, mas segue em baixa para pessoa jurídica. Os spreads, por sua vez continuam entre os maiores do mundo, mesmo com a taxa de juros nominais numa baixa histórica.
Nesta linha, a inflação continua bem abaixo da meta (de 4,5% com intervalos de tolerância de 1,5 para cima ou para baixo), o que corroboraria com uma queda ainda maior na taxa básica de juros, a Selic. O IPCA anualizado para abril estava em 2,76%, enquanto a Selic se manteve em 6,5%, o que coloca a taxa de juros real em 3,64%. No caso do INPC, índice utilizado pela maioria das categorias do Brasil como parâmetro para negociação, segue ainda mais baixo, em 1,69% em 12 meses. No caso da data-base dos bancários, que compreende o período entre 01 de setembro de 2017 e 31 de agosto de 2018, a estimativa do banco central é de um IPCA de 3,25% e um INPC de 2,58%.
Importante lembrar que os desafios na negociação desse ano são muito mais complexos do que em outros momentos pois com a reforma trabalhista impõe-se uma lógica extremamente perversa ao trabalhador. Portanto, é imperativo ao processo desse ano buscar proteger os bancários da precarização das condições de trabalho, além de assegurar direitos já conquistados, impedir negociações individuais sobre as coletivas e assegurar os sindicatos na negociação. 

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