Segunda, 26 Março 2018 00:00

PIB de 2017: há controvérsias sobre crescimento e geração de empregos de qualidade

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou no início de março os resultados consolidados do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017. Após dois anos consecutivos de retração na atividade econômica (menos 3,5% em 2015 e em 2016), viu-se certa recuperação no ano passado, com a alta de 1,0% em relação ao ano anterior. No entanto, há uma série de elementos controversos quanto a sustentação da recuperação da economia, diferentemente do que alardeiam o governo e aqueles que o patrocinam. Tais sinais se dão no âmbito produtivo, creditício e na geração de empregos de qualidade, conforme será explicitado nas próximas linhas,
O ritmo do crescimento em cada trimestre no ano passado pode ser considerado como um desses sinais. A desaceleração do crescimento ao longo dos quatro trimestres de 2017 (1,3%, 0,6%, 0,2% e 0,1%) decorre do fato de que muito do resultado consolidado apurado para o ano se deveu a fatores excepcionais. Como fatores excepcionais entende-se uma safra extremamente positiva – principalmente da soja, no primeiro semestre - e a liberação do FGTS que injetou algum dinamismo e consumo na economia, por exemplo. A agropecuária, aliás, cresceu 13,0% e a continuidade desse ritmo de expansão em 2018 depende do clima para a colheita e dos impactos das operações da Policia Federal contra setores ligados a pecuária, dentre outros motivos.
No caso da Indústria, observou-se tímida melhora (+0,3) em 2017, mas ainda assim continua perdendo espaço no PIB brasileiro - no processo conhecido como desindustrialização. Destaque apenas para a Indústria Extrativa (+4,3%) e para o setor automotivo, que expandiram sua produção voltados, predominantemente, a atender demanda externa (principalmente de China e Argentina). Por outro lado, setores intensivos em mão de obra e voltados à melhoria da infraestrutura física do país como a construção civil, amargaram mais um ano de queda (-5,0%). Os primeiros resultados de janeiro de 2018, segundo o Banco Central, não são animadores e mostram um quadro generalizado de queda na atividade econômica. Apenas a Indústria apresentou retração de 2,4% frente a dezembro, o que reafirma a necessidade de cautela ao analisar o comportamento da economia em 2017.


O canal do crédito, por sua vez, continua obstruído, e principalmente às empresas. Na pratica isso ocorre por distintas razões: baixa demanda, redução da oferta por parte do sistema financeiro, alta capacidade ociosa do setor produtivo, balanços comprometidos, etc. Segundo dados do Banco Central, o crédito à pessoa física apresentou pequena melhora (+2,9%) no ano, enquanto o crédito à pessoa jurídica fechou 2017 com mais uma queda acentuada (-9,6%).
Os bancos públicos, a partir de uma política deliberada do governo, vem cumprindo papel pró-cíclico nessa história, ou seja, contraindo o crédito num momento de baixa atividade. Tanto nos bancos de varejo como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, quanto no BNDES, os sinais de desmonte são evidentes e o potencial do Estado como direcionador de crédito (e, portanto, de que forma e para onde iremos crescer) vai se esvaindo em rápida velocidade. Ainda assim, os bancos públicos, eram responsáveis por 54,2% do total do estoque de crédito no país em 2017, o que reafirma a importância dessas instituições no fomento da economia.
E tudo isso em um país com quase 13 milhões de desempregados e uma informalidade crescente. Para se ter uma ideia, em 2014, a taxa de desemprego era de 6,8% e praticamente 50% da força de trabalho empregada estava no mercado formal. Atualmente, esse percentual gira em torno de 45% e com uma taxa de desemprego de 12,2%. Na prática, a acentuação dessa anomalia cria uma massa de desprotegidos e uma queda das receitas para o governo, agravando o problema fiscal. Cabe lembrar que ainda nem sentimos, de fato, os impactos da reforma trabalhista recém implementada, o que tende a agravar a situação num futuro próximo.
Fica evidente em todo esse processo a falta de uma visão estratégica de desenvolvimento que enxergue na política econômica um papel de indutora de um crescimento sustentado e sustentável, que tenha direção e objetivos claros. Para tanto, é fundamental que se desenvolvam diagnósticos mais precisos dos problemas (sociais) e gargalos (econômicos) e que, a partir daí se mobilizem esforços e recursos (crédito) para nichos, setores e regiões especificas. Sem isso, provavelmente viveremos de voos de galinha no que se relaciona ao crescimento e sem qualquer capacidade de geração de emprego e renda de qualidade e de construir um país mais justo.

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