Segunda, 09 Novembro 2020 20:14

Sim, há racismo no Brasil

No mês da Consciência Negra, bancários precisam debater racismo nos bancos
Almir Aguiar Almir Aguiar

Sim, no Brasil há racismo. Após décadas de hegemonia de um pensamento acadêmico e do discurso da grande mídia que ainda hoje faz apologia do mito da “democracia racial”, escondendo que a miscigenação no Brasil foi fruto da violência e do estupro de homens da elite branca contra mulheres negras e índias até a atual conjuntura política de retrocesso que tenta negar a dívida social histórica do país com a comunidade afrodescendente, mais do que nunca é preciso discutir e denunciar o racismo no país. O mercado de trabalho revela este preconceito racial e nos bancos a situação é ainda mais grave, afirma o diretor de Combate ao racismo da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Bancos), Almir Aguiar. “Os negros raramente estão na linha de frente do atendimento nos bancos privados e são discriminados desde o ingresso ao mercado de trabalho até a possibilidade de ascensão profissional nas empresas. A categoria precisa debater esta realidade”, explica o sindicalista.

Racismo institucional

Almir citou um caso clássico e recente do Nubank que confirma que o mercado financeiro não tem empatia com o povo negro. A declaração racista da sócia brasileira do banco digital, Cristina Junqueira, em entrevista no programa Roda Viva, na TV Cultura, em outubro deste ano, foi estarrecedora. A cofundadora da empresa disse que a instituição “não podia nivelar por baixo no momento da contratação de negros”. “Esta é uma afirmação extremamente racista e a empresária teria que responder criminalmente. Não é um caso isolado de discriminação racial, mas revela o racismo institucional que existe em nosso país e em especial nos bancos”, critica Almir, que lembrou a reação da sociedade norte-americana contra o caso da morte do ativista negro George Floyd por um policial nos EUA. “A mobilização popular contra a morte de um negro numa sociedade explicitamente racista mexeu com o povo americano e mudou a eleição para presidente daquele país, derrotando a política reacionária, machista e racista de Donald Trump. Nós precisamos fazer o mesmo no Brasil contra esta ideologia de extrema-direita que ocupa hoje o Palácio do Planalto, onde até instituições que deveriam representar a nossa comunidade negam o racismo e combatem as políticas afirmativas”, acrescenta.

Do total de 450 mil bancários distribuídos no Brasil, apenas 24% da categoria é formada por trabalhadores negros. É o que aponta o Mapa da Diversidade da Categoria Bancária, censo realizado em 2014 pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Atendendo uma reivindicação do movimento sindical, a entidade levantou que 21% dos trabalhadores se declaravam à época pardos. E somente 3% pretos, embora, somados, os negros sejam a maioria da população no país, totalizando 56,10%.

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