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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Sim, no Brasil há racismo. Após décadas de hegemonia de um pensamento acadêmico e do discurso da grande mídia que ainda hoje faz apologia do mito da “democracia racial”, escondendo que a miscigenação no Brasil foi fruto da violência e do estupro de homens da elite branca contra mulheres negras e índias até a atual conjuntura política de retrocesso que tenta negar a dívida social histórica do país com a comunidade afrodescendente, mais do que nunca é preciso discutir e denunciar o racismo no país. O mercado de trabalho revela este preconceito racial e nos bancos a situação é ainda mais grave, afirma o diretor de Combate ao racismo da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Bancos), Almir Aguiar. “Os negros raramente estão na linha de frente do atendimento nos bancos privados e são discriminados desde o ingresso ao mercado de trabalho até a possibilidade de ascensão profissional nas empresas. A categoria precisa debater esta realidade”, explica o sindicalista.
Racismo institucional
Almir citou um caso clássico e recente do Nubank que confirma que o mercado financeiro não tem empatia com o povo negro. A declaração racista da sócia brasileira do banco digital, Cristina Junqueira, em entrevista no programa Roda Viva, na TV Cultura, em outubro deste ano, foi estarrecedora. A cofundadora da empresa disse que a instituição “não podia nivelar por baixo no momento da contratação de negros”. “Esta é uma afirmação extremamente racista e a empresária teria que responder criminalmente. Não é um caso isolado de discriminação racial, mas revela o racismo institucional que existe em nosso país e em especial nos bancos”, critica Almir, que lembrou a reação da sociedade norte-americana contra o caso da morte do ativista negro George Floyd por um policial nos EUA. “A mobilização popular contra a morte de um negro numa sociedade explicitamente racista mexeu com o povo americano e mudou a eleição para presidente daquele país, derrotando a política reacionária, machista e racista de Donald Trump. Nós precisamos fazer o mesmo no Brasil contra esta ideologia de extrema-direita que ocupa hoje o Palácio do Planalto, onde até instituições que deveriam representar a nossa comunidade negam o racismo e combatem as políticas afirmativas”, acrescenta.
Do total de 450 mil bancários distribuídos no Brasil, apenas 24% da categoria é formada por trabalhadores negros. É o que aponta o Mapa da Diversidade da Categoria Bancária, censo realizado em 2014 pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Atendendo uma reivindicação do movimento sindical, a entidade levantou que 21% dos trabalhadores se declaravam à época pardos. E somente 3% pretos, embora, somados, os negros sejam a maioria da população no país, totalizando 56,10%.