Quarta, 05 Agosto 2020 23:37
NAS REDES SOCIAIS

Defender os empregos é prioridade da Campanha Nacional dos Bancários

Participação da categoria, pressionando os bancos nas redes sociais, será fundamental para o combate às demissões e uma campanha vitoriosa
: Live organizada pelo Sindicato do Rio tratou da questão do emprego, a maior preocupação da categoria e que será tema da negociação desta quinta (6), com a Fenaban : Live organizada pelo Sindicato do Rio tratou da questão do emprego, a maior preocupação da categoria e que será tema da negociação desta quinta (6), com a Fenaban

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

O Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro realizou na noite desta quarta-feira, dia 5 de agosto, uma live com o tema “Em defesa dos postos de trabalho”. A atividade fez parte da campanha nacional da categoria e busca ampliar o debate e a interação com a categoria, antecedendo à negociação dos bancários sobre emprego com a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos), nesta quinta-feira (6).

Neste momento em que os bancos fecham agências físicas e extinguem postos de trabalho, a defesa do emprego é uma das prioridades da campanha salarial deste ano, pauta aprovada na 22ª Conferência Nacional.

Tecnologia e emprego

O Presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília Kleytton Morais abriu os debates destacando a importância do debate sobre o tema emprego.

“O emprego é o direito que dá acesso a todos os demais direitos, a partir da condição do vínculo empregatício”, disse. Destacou ainda que um grande desafio do país é a distribuição das riquezas produzidas pela sociedade e de como impactará o uso das novas tecnologias no mundo do trabalho.

“A discussão tem de estar centrada na maximização do retorno sobre a atividade econômica que tem sido para poucos em detrimento de muitos. O aparato tecnológico deveria ser conduzido para agregar aos interesses da coletividade, mas o que a gente vê é mais concentração de renda a partir desta reorganização produtiva e dos empregos”, destaca, lembrando que, com o processo da pandemia do novo coronavírus, a situação se agravou.

“O cenário no Brasil é desalentador, com milhões de brasileiros e brasileiras desempregados, desalentados e subocupados. No caso da categoria bancária a gente vê o processo de automação e inovação tecnológica reafirmando o desprezo dos bancos por sua mão de obra, com demissão estrutural e em massa”, acrescenta. Kleytton criticou o golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff, em 2016 como parte que explica a atual conjuntura de retrocesso. “Nós não podemos achar normal este processo que começou com o golpe em 2016 e dizer para a sociedade que não existe a dicotomia entre direitos e trabalho, essa mentira que banqueiros e homens de negócios que só aumenta esta concentração de renda estúpida e insustentável”.

O teletrabalho, primeiro item da mesa de negociações, também foi destacado no encontro. Lembraram que a atual legislação não protege estes trabalhadores, que os bancos querem reduzir direitos e que garantir as conquistas da categoria para quem vai continuar trabalhando em casa após a pandemia é também uma importante bandeira de luta da campanha deste ano,

Desafios da categoria

A presidenta do Sindicato dos Bancários de Campo Grande (MS) Neide Rodrigues falou dos desafios da categoria na campanha salarial deste ano.

“Nossa categoria é bem organizada nacionalmente e temos o grande desafio de garantir a manutenção dos empregos e dos direitos. Já enfrentamos outras situações difíceis, mas agora a crise é agravada por esta pandemia”, afirma, criticando as demissões promovidas pelo Santander, que já demitiu mais de 800 trabalhadores em todo o Brasil, descumprindo o acordo firmado pelas três maiores instituições financeiras do país (além do grupo espanhol, o Itaú e o Bradesco) neste período de avanço da Covid-19.  

“Precisamos estar cada vez mais organizados e a categoria tem de compreender que ela precisa estar junta com os sindicatos, pois se não fosse o movimento sindical os direitos já estariam todos perdidos. Com certeza, os banqueiros queriam realizar negociações individuais e isto só não aconteceu em virtude de nossa organização de luta”, destaca.

Pandemia e desemprego

O economista do Dieese (Departamento de Estatística Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos), Paulo Jager explicou a atual situação do emprego no Brasil agravada pela pandemia mostrando que os números divulgados pelo IBGE mostraram que houve um crescimento, mas não uma esperada explosão na taxa de desemprego, em que o trimestre fechado em maio apresentou uma oscilação de 12,3% em 2019 para 12,9% no período para este ano, mostrando que o Brasil, mesmo antes da pandemia, não havia conseguido ainda superar a crise econômica iniciada em 2015/2016.

“Se as cerca de sete milhões de pessoas que pararam de procurar trabalho voltarem a buscar o mercado quando acabar a transferência de renda (auxílio emergencial), as estatísticas no número de desempregados vai chegar a mais de 20 milhões de brasileiros, chegando a uma taxa de 20%”, afirma, mostrando que o contingente de pessoas que pararam de procurar trabalho, ainda não aparece nos números oficiais de desempregados.  

“A apresentação da pesquisa do Dieese sobre o tema que apresentamos na reunião chamou a atenção dos representantes dos bancos, tanto que a Fenaban decidiu marcar uma nova negociação sobre o trabalho remoto”, disse Adriana.

Preocupação dos bancários

Adriana Nalesso, presidenta do Sindicato do Rio e que mediou o debate, destacou se a questão do emprego uma das maiores preocupações da categoria neste momento.

“A Consulta Nacional mostrou que a maior preocupação da categoria é o emprego e 53,6% responderam que seu maior medo é o de ser demitido. Outra questão que aflige os bancários e bancárias está relacionada ao Home Office, que gera o medo do trabalhador se esquecido pela empresa por trabalhar em casa”, disse.

Demissões no Santander

Paulo Jager concordou com a posição dos sindicalistas de que o sistema financeiro não tem razões para demitir, como tem feito principalmente, o Santander.

“Os lucros do primeiro trimestre dos grandes bancos foram ainda muito altos sem falar que durante décadas o setor acumulou ganhos, independentemente da conjuntura econômica do país. E num período extraordinário como este de pandemia, os bancos deveriam dar o exemplo de responsabilidade social. O Santander tem demitido no Rio e no Brasil e usar como argumento que a expectativa da empresa era de que a pandemia se resolveria em dois meses não é razoável. Os impactos poderão durar dois anos. É lamentável este banco esteja agindo desta maneira”, critica.  

Adriana lembrou que o Brasil responde por 33% dos lucros mundiais do grupo espanhol. “Na Espanha eles não demitiram porque aqui em nosso país nós não temos instrumentos de proteção aos empregos, os empresários podem tudo e o trabalhador é quem perde, especialmente a partir da reforma trabalhista”, declarou, criticando as mudanças na regulamentação trabalhista promovida pelo então Ministro da Fazenda do Governo Temer, Henrique Meirelles, que foi executivo do BankBoston e é fundador do Banco Original.

Os sindicalistas lembraram ainda que, somente com o dinheiro arrecado com tarifas pelo Santander equivale a duas vezes a sua folha de pagamento.

Os cinco maiores bancos do sistema financeiro nacional lucraram no primeiro trimestre deste ano, R$18 bilhões.

Expectativas da campanha

Em relação às expectativas do movimento sindical a respeito das negociações dos bancários com os bancos, Neide Rodrigues disse que será uma campanha salarial muito dura.

“Desde que entregamos a minuta de reivindicações ficou claro que teremos dificuldades nas negociações. O Comando Nacional teve o cuidado de antecipar logo o calendário das reuniões com a Fenaban para tentar o acordo antes do dia 30 de agosto – a data-base da categoria é 1º de setembro – porque não temos mais a ultratividade”, explica. A ultratividade, que foi reivindicada pelos sindicatos na primeira reunião com os bancos, garantia que o acordo atual valia até que fosse firmada uma nova Convenção Coletiva. A partir da reforma trabalhista este direito dos trabalhadores não está mais garantido pela legislação.  

“Não é fácil, mas estamos organizando a categoria para mostrar aos banqueiros que não há a necessidade de demissões no setor”, acrescenta.

Kleytton está otomista com a capacidade de luta dos bancários. “A categoria já começa respondendo bem em relação aos níveis de participação. Os números são surpreendentes bem como a nossa capacidade de reinventar as formas de participação e engajamento, com um alto nível de adesão e envolvimento dos trabalhadores na campanha nacional”.

O presidente do Sindicato de Brasília citou como exemplo da participação da categoria em relação à campanha contra as demissões do Santander realizada pelos bancários nas redes sociais.

“O risco de imagem é muito considerado pelos bancos como um risco sistêmico, afetando os negócios, os resultados e os bancos sabem que diante disto precisam recuar. É um tempo que causa isolamento, mas que potencializa a nossa capacidade de interação e de formulação das estratégias de luta e essa crise é uma demonstração disto”, explica.

Adriana lembrou do lema deste ano “A distância não nos limita” mostrando que, mesmo com a necessidade de distanciamento social, a categoria está interagindo. “Os bancários e bancárias precisam nos ajudar continuando a participar da campanha, pressi0onando os bancos através das redes sociais”.

Os participantes da live foram unânimes em afirmar que o setor financeiro não tem motivos para demitir e destacaram também a importância do papel dos bancos públicos para a economia, o que ficou evidente nesta crise da pandemia. Criticaram a redução no número de agências físicas e mudança de perfil das unidades.

“O negócio dos bancos não é o povo, mas cada vez mais para quem especula. As instituições públicas é que atendem, pagam programas sociais, investem na economia mesmo correndo riscos no mercado, o que confirma a importância de defendermos os bancos públicos. O estado tem sido fundamental nesta crise e se não fossem os bancos e empresas públicas os índices sociais estariam muito pior do que já estão e a população percebeu isto”, disse Kleytton, lembrando do papel da Caixa Econômica Federal para o pagamento do auxílio emergencial e do Banco do Brasil na política de crédito para setores importantes da economia, como o agronegócio e a agricultura familiar.

“Nenhum banco privado quer pobre em sua agência por isso a defesa dos bancos públicos está na pauta de nossas lutas”, conclui Adriana.

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