Sábado, 18 Julho 2020 00:11
22ª CONFERÊNCIA NACIONAL

Haddad destaca riscos de Bolsonaro para a democracia mas acredita na reação da sociedade

Petista se diz preocupado com elevação de gastos com defesa e teme que o governo envolva o Brasil num conflito com a Venezuela
Fernando Haddad explicou como o país chegou a atual tragédia política, social e sanitária. Na opinião do ex-prefeito de São Paulo tudo começou com a reeleição da presidenta Dilma. “A direita não aceitou a quarta derrota seguida para o PT” Fernando Haddad explicou como o país chegou a atual tragédia política, social e sanitária. Na opinião do ex-prefeito de São Paulo tudo começou com a reeleição da presidenta Dilma. “A direita não aceitou a quarta derrota seguida para o PT”

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

O ex-prefeito de São Paulo e presidenciável do PT nas eleições presidenciais de 2018, Fernando Haddad, expressou a sua preocupação com o anúncio do Governo Bolsonaro de elevar os gastos com o “Plano Nacional de Defesa” que vai saltar de 1,3% do PIB (Produto Interno Bruto) para 2% os investimentos nas Forças Armadas.  O PIB brasileiro é de cerca de R$7 trilhões. O petista destacou que ideias que foram tratadas na campanha eleitoral voltam a ser levantados pelo atual governo que colocam em risco a paz no continente sul-americano. Lembrou a vergonha que foi para o país que foi a declaração do chefe do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA, o almirante Craig Faller, de que “os brasileiros estão pagando para ele vir para cá e trabalhar para mim”, referindo-se ao trabalho do brigadeiro David Almeida Alcoforado quando foi apresentado ao presidente dos EUA, Donald Trump.

Haddad criticou que o plano de defesa é um Novo problema surgido no país e criticou o fato de o governo brasileiro, em plena crise de pandemia, anunciar a possível elevação dos gastos militares, cerca de R$50 bilhões por ano.

“Em 10 anos estes gastos chegam a R$500 bilhões, metade do que o Paulo Guedes diz que o Estado economizaria em uma década com a reforma da Previdência. Para que o Brasil vai gastar com defesa o que diz ter economizado com a reforma previdenciária? O presidente está dizendo que nossa região deixou de ser pacífica e passou a ter crise e tensões. Meu temor é o governo tomar para si uma guerra que não é nossa. Nós não precisamos do petróleo venezuelano. Quem sempre teve o interesse de transformar a Venezuela num quintal de reserva fóssil foram os EUA”, disse, lembrando o pretexto do governo americano para entrar na Guerra contra o Iraque, a farsa das tais “armas de destruição em massa” que nunca existiram.

“Quando o presidente Bush pediu o apoio do Brasil na Guerra do Iraque, o presidente Lula respondeu que “a sua guerra era contra a fome de seu país” e o governo brasileiro ainda se ofereceu, na época, para encontrar uma solução pacífica para os conflitos do Oriente Médio”, explicou. Lembrou que Lula mediou inclusive as tensões entre a Casa Branca e o governo Hugo Chavez, afastando a possibilidade de intervenção militar na região.

Destacou a importância das eleições presidenciais dos EUA deste ano para o mundo. “Trump é fruto da crise de 2008 que gerou esse crescimento da extrema-direita no mundo que o elegeu presidente dos EUA e o Bolsonaro no Brasil e se Deus quiser ele vai perder as eleições para o candidato democrata”, disse.

Ameaça à democracia

O ex-presidenciável petista falou também das ameaças de Bolsonaro às instituições democráticas. “A única tensão para a América Latina são os governos Trump nos EUA e Bolsonaro no Brasil. Nós não estamos somente diante de um mau governo, que a população corrige nas ruas. Mas estamos diante de um mau projeto que visa minar as bases institucionais construídas no pós-ditadura, na redemocratização que garantem que possamos lutar por direitos com liberdade”, declarou, criticando a natureza autoritária do atua governo.

“A guerra do Bolsonaro não é apenas contra a ciência, os valores e as artes, mas é contra a política como nós a entendemos enquanto esfera da liberdade onde as pessoas apresentam seus argumentos, convencem parte da cidadania e representam anseios populares. Essa realidade da política não está na cabeça do Bolsonaro, pois se estivesse ele encararia a oposição como adversária. Ele trata quem não é da sua base de apoio como inimigo que precisa ser destruído e ele tem as armas da caneta na mão”, explica.

O Brasil pós-golpe

Haddad considera que o país chegou a esta situação desde a reeleição da presidenta Dilma, pois a direita não aceitou o resultado do pleito e a quarta derrota seguida para o PT.

“Todo mundo sabe que a presidenta Dilma não cometeu nenhum crime de responsabilidade. Ela foi impedida porque ganhou a eleição. No dia seguinte a reeleição tinha gente defendendo o impeachment. O que se vê hoje passa pela condenação surrealista a que Lula foi submetido, pelo escândalo que  foram as eleições de 2018, em que as fake news elegeram um miliciano inclusive com dinheiro público, no gabinete do filho de Bolsonaro. Estão corrompendo as instituições a partir de dentro”, avalia. Haddad também elogiou os movimentos populares contra o governo fascista, como o de estudantes e profissionais da educação, em 2019, e mais recentemente, das torcidas organizadas em que “corintianos e palmeirenses, flamenguistas e vascaínos deixaram de lado suas rivalidades no futebol e se uniram contra o governo fascista” e a greve dos entregadores de aplicativos, declarou, mostrando que a sociedade não está parada diante da atual conjuntura política tão adversa.  

“A consciência política que os trabalhadores de APPs mostraram relacionando este governo fascista com a retirada de direitos é uma coisa essencial, pois o combate ao fascismo é também a defesa dos direitos, é a democracia do dia a dia, da Constituição Federal de 1988. É a democracia que precisa avançar e não retroceder em tudo aquilo que conquistamos”, acrescenta.

Afirmou que o Brasil não tem como  se desenvolver sem os bancos públicos.

“Assim como defendemos a educação e os direitos vai chegar o momento em que vamos ter de ir para as ruas defender as instituições financeiras públicas. É um momento muito delicado da vida nacional, mas temos que confiar na sociedade e em nossa capacidade de mobilização para frear os desmandos desse governo e defender o nosso projeto de nação”.

Ao final elogiou a garra dos bancários e a relevância do papel da categoria nestas lutas por direitos e pela democracia.  

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