Sexta, 17 Julho 2020 22:46
22ª CONFERÊNCIA NACIONAL

Boulos diz que pandemia mostrou a falência do modelo dos mercados

Líder do MTST diz que pandemia revelou o fracasso da política econômica neoliberal
Guilherme Boulos propõe um novo modelo econômico que não seja pautado pelos interesses econômicos dos mercados, mas pela promoção de uma sociedade mais justa Guilherme Boulos propõe um novo modelo econômico que não seja pautado pelos interesses econômicos dos mercados, mas pela promoção de uma sociedade mais justa

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

O momento mais esperado do primeiro dia da 22ª Conferência Nacional dos Bancários, nesta sexta-feira (17), a participação de quatro convidados especiais para falarem da atual conjuntura tão adversa para os trabalhadores brasileiros e quais a saída para o Brasil sair da crise sanitária e econômica em que se encontra. Guilherme Boulos, líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e candidato do PSOL à presidência da República em 2018; Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e presidenciável do PT no mesmo ano; o governador do Maranhão Flávio Dino (PCdoB) e o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos disse que vivemos a maior crise vivida por esta geração, destacando em primeiro lugar a crise sanitária, de saúde pública, em que o Brasil já chega a 80 mil mortes.

“Muitas mortes poderiam ser evitadas se houvesse uma disposição dos governos do mundo todo e sobretudo do Brasil de proteger as vidas das pessoas. Chegamos ao ponto de ter mais mortes nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro do que na China inteira, o país mais populoso do planeta onde começou a pandemia. Não é por acaso que os três países com maior número de vítimas fatais com Covid-19 são governados pela extrema-direita: o Brasil, os EUA e o Reino Unido, que adotaram uma linha negacionista, dizendo que ‘é uma gripezinha’, é o ‘e daí’, ‘vai passar’, ‘não precisa ficar em casa’ e o que estamos vendo no Brasil é um verdadeiro genocídio cometido pelo Governo Bolsonaro. A pandemia tem deixado um rastro de morte e destruição”, disse.

Criticou o fato de o país está há 63 dias sem um ministro da Saúde. “Além da pandemia nós temos que enfrentar o pandemônio. Não tem estratégia de saúde pública, não tem testagem em massa, monitoramento epidemiológico, o presidente confronta os governadores que adotaram políticas de acordo com a OMS – Organização Mundial de Saúde. Não contente com o desastre humano Bolsonaro quer se aproveitar para promover o autoritarismo político”, acrescentou lembrando das manifestações dominicais organizadas pelo Palácio do Planalto contra as instituições democráticas.  

Desastre econômico

Boulos culpou o governo federal também pelo desastre econômico. “Se houver uma queda de 9% do PIB como algumas estimativas preveem, teremos o dobro de desempregados no país, o número de trabalhadores saltar de 40 milhões para 50 ou 60 milhões, o que poderá nos levar a uma convulsão social. Essa história de que governo está preocupado com a economia é mentira. Ele não salvou as vidas e nem vai salvar a economia. Qual a grande medida dele para salvar as micros e pequenas empresas, que são as que geram mais empregos e estão falindo em série. Qual a grande medida para manter a vida dos trabalhadores a não ser o auxílio emergencial que foi conquistado pela oposição e que o governo só fala em diminuir ou acabar ou para colocar a moeda em circulação?”, questiona.  

Crise de destino

Criticou o que chama de “psicopatia” do ministro da Economia Paulo Guedes que faz, em meio a pandemia, o neoliberalismo mais clássico enquanto que em que outros países, mesmo as economias mais liberais emitem moeda para injetar dinheiro na economia e salvar a população.

“Vivemos uma crise de destino, de modelo e de valores. A pandemia é trágica, vai deixar um rastro insuperável de mortes, de perdas e lutos e de famílias destruídas e desestruturadas. Mas o combate à pandemia deixou a nu os valores do modelo que nos levou até esta situação. Mostrou a falência dos mercados como agentes reguladores das relações sociais”, explica, criticando a política de privatizações, de estado mínimo, teto de gastos e redução dos investimentos públicos, de querer acabar com o SUS e que trata os servidores como parasitas”, destacou lembrando a frase utilizada por Guedes para se referir aos funcionários públicos.

Modelo perverso

Disse que o modelo neoliberal dos mercados na pandemia resultou em especulação e pirataria de respiradores, em aumento de 900% no valor de consultas e internações nos hospitais privados, um pote álcool gel que chegou a ser vendido a R$60. O que seria do nosso país sem o SUS? Basta olhar para os EUA. A maior economia capitalista do mundo foi a pior que enfrentou a pandemia porque não tem um sistema público de saúde, porque é cada um por si eas pessoas são lançadas à própria sorte”, criticou. Citou como exemplo da perversidade com que estes governos tratam à população, as declarações do ex-ministro da saúde do Governo Temer, Ricardo Barros, que segundo Boulos, é um lobista dos planos privados de saúde, de que “o governo tinha que injetar dinheiro nos hospitais privados porque eles perderam muito dinheiro com a redução dos acidentes de trânsito” e que os “clientes Covid” não compensaram os prejuízos do setor.

Destacou ainda a importância dos bancos públicos, lembrando o papel da organização digital da Dataprev, estatal que Guedes quer privatizar, para o pagamento do auxílio emergencial.

“Isto expressa a importância do público em detrimento do privado e que a lógica do lucro sobre a vida leva à perversidade e a destruição social”, completa.

Defendeu os desafios do campo popular e democrático, em primeiro o de salvar vidas e eleogiou as ações de solidariedade dos movimentos sociais e organizações que fizeram uma “onda de solidariedade”.

“O movimento organizado está fazendo o que o governo não faz, levando comida para as pessoas, material de higiene e máscaras. Sabemos que isso não basta. Precisamos de políticas públicas sanitárias, como fizeram a China e a Coreia do Sul, testagem em massa, isolamento de quem está infectado e medidas sociais. Temos que implementar uma campanha nacional em defesa da extensão do auxílio emergencial. A Argentina anunciou o aumento de 40% no gastos com políticas públicas para responder a crise e gerar empregos”, destacou.

Fora Bolsonaro

Acusou Bolsonaro de ser um “criminoso” por atentar contra a vida das pessoas  e cometer seguidos crimes de responsabilidade e que é preciso fortalecer o movimento para retirar o atual governo, seja através do impeachment ou pelo processo do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sobre as fake news que foram decisivas na influência do resultado das eleições de 2018. Defendeu a mobilização nas redes sociais e nas ruas, com os devidos cuidados sanitários e deu como exemplos positivos os movimentos recentes dos jovens, das torcidas organizadas, dos movimentos negros e dos entregadores de aplicativos para retirar Bolsonaro do poder.  

Modelo solidário

Criticou o atual modelo econômico que trata como mercadoria a saúde, a mobilidade social e água (neste último, referindo-se ao novo marco regulatório do saneamento).

“Se a pandemia mostrou a necessidade do SUS, dos bancos públicos e das políticas sociais, vamos ousar apresentar outro modelo de desenvolvimento que não está pautado pelos mercados, mas com taxação das grandes fortunas, colocar em pauta a renda básica para tirar milhões da miséria. Se esta crise criou uma onda de solidariedade que isso não acabe e não se limite a gestos individuais mas como princípio organizador da nossa sociedade”, conclui.  

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