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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
O momento mais esperado do primeiro dia da 22ª Conferência Nacional dos Bancários, nesta sexta-feira (17), a participação de quatro convidados especiais para falarem da atual conjuntura tão adversa para os trabalhadores brasileiros e quais a saída para o Brasil sair da crise sanitária e econômica em que se encontra. Guilherme Boulos, líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e candidato do PSOL à presidência da República em 2018; Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e presidenciável do PT no mesmo ano; o governador do Maranhão Flávio Dino (PCdoB) e o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Boulos disse que vivemos a maior crise vivida por esta geração, destacando em primeiro lugar a crise sanitária, de saúde pública, em que o Brasil já chega a 80 mil mortes.
“Muitas mortes poderiam ser evitadas se houvesse uma disposição dos governos do mundo todo e sobretudo do Brasil de proteger as vidas das pessoas. Chegamos ao ponto de ter mais mortes nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro do que na China inteira, o país mais populoso do planeta onde começou a pandemia. Não é por acaso que os três países com maior número de vítimas fatais com Covid-19 são governados pela extrema-direita: o Brasil, os EUA e o Reino Unido, que adotaram uma linha negacionista, dizendo que ‘é uma gripezinha’, é o ‘e daí’, ‘vai passar’, ‘não precisa ficar em casa’ e o que estamos vendo no Brasil é um verdadeiro genocídio cometido pelo Governo Bolsonaro. A pandemia tem deixado um rastro de morte e destruição”, disse.
Criticou o fato de o país está há 63 dias sem um ministro da Saúde. “Além da pandemia nós temos que enfrentar o pandemônio. Não tem estratégia de saúde pública, não tem testagem em massa, monitoramento epidemiológico, o presidente confronta os governadores que adotaram políticas de acordo com a OMS – Organização Mundial de Saúde. Não contente com o desastre humano Bolsonaro quer se aproveitar para promover o autoritarismo político”, acrescentou lembrando das manifestações dominicais organizadas pelo Palácio do Planalto contra as instituições democráticas.
Desastre econômico
Boulos culpou o governo federal também pelo desastre econômico. “Se houver uma queda de 9% do PIB como algumas estimativas preveem, teremos o dobro de desempregados no país, o número de trabalhadores saltar de 40 milhões para 50 ou 60 milhões, o que poderá nos levar a uma convulsão social. Essa história de que governo está preocupado com a economia é mentira. Ele não salvou as vidas e nem vai salvar a economia. Qual a grande medida dele para salvar as micros e pequenas empresas, que são as que geram mais empregos e estão falindo em série. Qual a grande medida para manter a vida dos trabalhadores a não ser o auxílio emergencial que foi conquistado pela oposição e que o governo só fala em diminuir ou acabar ou para colocar a moeda em circulação?”, questiona.
Crise de destino
Criticou o que chama de “psicopatia” do ministro da Economia Paulo Guedes que faz, em meio a pandemia, o neoliberalismo mais clássico enquanto que em que outros países, mesmo as economias mais liberais emitem moeda para injetar dinheiro na economia e salvar a população.
“Vivemos uma crise de destino, de modelo e de valores. A pandemia é trágica, vai deixar um rastro insuperável de mortes, de perdas e lutos e de famílias destruídas e desestruturadas. Mas o combate à pandemia deixou a nu os valores do modelo que nos levou até esta situação. Mostrou a falência dos mercados como agentes reguladores das relações sociais”, explica, criticando a política de privatizações, de estado mínimo, teto de gastos e redução dos investimentos públicos, de querer acabar com o SUS e que trata os servidores como parasitas”, destacou lembrando a frase utilizada por Guedes para se referir aos funcionários públicos.
Modelo perverso
Disse que o modelo neoliberal dos mercados na pandemia resultou em especulação e pirataria de respiradores, em aumento de 900% no valor de consultas e internações nos hospitais privados, um pote álcool gel que chegou a ser vendido a R$60. O que seria do nosso país sem o SUS? Basta olhar para os EUA. A maior economia capitalista do mundo foi a pior que enfrentou a pandemia porque não tem um sistema público de saúde, porque é cada um por si eas pessoas são lançadas à própria sorte”, criticou. Citou como exemplo da perversidade com que estes governos tratam à população, as declarações do ex-ministro da saúde do Governo Temer, Ricardo Barros, que segundo Boulos, é um lobista dos planos privados de saúde, de que “o governo tinha que injetar dinheiro nos hospitais privados porque eles perderam muito dinheiro com a redução dos acidentes de trânsito” e que os “clientes Covid” não compensaram os prejuízos do setor.
Destacou ainda a importância dos bancos públicos, lembrando o papel da organização digital da Dataprev, estatal que Guedes quer privatizar, para o pagamento do auxílio emergencial.
“Isto expressa a importância do público em detrimento do privado e que a lógica do lucro sobre a vida leva à perversidade e a destruição social”, completa.
Defendeu os desafios do campo popular e democrático, em primeiro o de salvar vidas e eleogiou as ações de solidariedade dos movimentos sociais e organizações que fizeram uma “onda de solidariedade”.
“O movimento organizado está fazendo o que o governo não faz, levando comida para as pessoas, material de higiene e máscaras. Sabemos que isso não basta. Precisamos de políticas públicas sanitárias, como fizeram a China e a Coreia do Sul, testagem em massa, isolamento de quem está infectado e medidas sociais. Temos que implementar uma campanha nacional em defesa da extensão do auxílio emergencial. A Argentina anunciou o aumento de 40% no gastos com políticas públicas para responder a crise e gerar empregos”, destacou.
Fora Bolsonaro
Acusou Bolsonaro de ser um “criminoso” por atentar contra a vida das pessoas e cometer seguidos crimes de responsabilidade e que é preciso fortalecer o movimento para retirar o atual governo, seja através do impeachment ou pelo processo do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sobre as fake news que foram decisivas na influência do resultado das eleições de 2018. Defendeu a mobilização nas redes sociais e nas ruas, com os devidos cuidados sanitários e deu como exemplos positivos os movimentos recentes dos jovens, das torcidas organizadas, dos movimentos negros e dos entregadores de aplicativos para retirar Bolsonaro do poder.
Modelo solidário
Criticou o atual modelo econômico que trata como mercadoria a saúde, a mobilidade social e água (neste último, referindo-se ao novo marco regulatório do saneamento).
“Se a pandemia mostrou a necessidade do SUS, dos bancos públicos e das políticas sociais, vamos ousar apresentar outro modelo de desenvolvimento que não está pautado pelos mercados, mas com taxação das grandes fortunas, colocar em pauta a renda básica para tirar milhões da miséria. Se esta crise criou uma onda de solidariedade que isso não acabe e não se limite a gestos individuais mas como princípio organizador da nossa sociedade”, conclui.