Quarta, 17 Outubro 2018 17:51

Futuro dos bancos públicos está diretamente ligado ao destino do Brasil, diz Emir Sader

O destino do Brasil está intrinsicamente relacionado ao futuro dos bancos públicos. A afirmação foi feita pelo sociólogo Emir Sader, diretor do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), durante o debate público “O Futuro dos Bancos Públicos”, realizado na última terça-feira, 16, na Fundição Progresso, na Lapa, Centro do Rio. O evento foi promovido pela CartaCapital e pela Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae).
 “O governo Temer não precisa dos bancos públicos, pois não tem interesse em fazer política social”, explica o professor. Sader destacou que, ao longo da história, os bancos públicos tiveram funções fundamentais na política do Estado brasileiro. Lembrou que foi durante os mandatos petistas, que a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil assumiram papeis ainda mais relevantes, como o de alavancar as políticas sociais. “A Caixa se tornou o segundo maior banco do Brasil na esteira do financiamento habitacional do programa Minha Casa, Minha Vida”, acrescenta. 
A crise de 2008
Emir Sader lembrou ainda que na crise financeira de 2008, a existência das instituições estatais foi essência para resgatar a economia brasileira. 
“A crise uma hora era um tsunami, outra hora, uma marolinha.” Já na atual crise, o papel dessas instituições é praticamente inexistente, alerta o sociólogo.
O exemplo argentino
Ele compara com a Argentina, cuja crise econômica teima em não ceder – o país novamente pediu dinheiro para o FMI. “Eles já não tem banco público. O banco argentino mais forte é dirigido por uma cooperativa ligada ao Partido Comunista. O resto é privado, com capital estrangeiro. Aí nós vemos mais uma vez a Argentina com uma dificuldade muito grande de retomar o crescimento econômico”, destaca. 
Eleições 2018
Não é por acaso, afirma Sader, que o candidato Jair Bolsonaro deve colocar no Ministério da Fazenda alguém “radicalmente ligado ao capital financeiro”. Em declarações recentes, o economista e banqueiro Paulo Guedes, consultor do capitão da reserva, já indicou sua intenção em privatizar o máximo possível das estatais brasileiras, se possível, todas, reproduzindo o modelo fracassado de Macri, na Argentina. 
Papel social
O vice-presidente do Sindicato e presidente da Apcef-Rio, Paulo Matileti, disse que programas habitacionais, de agricultura familiar e o Bolsa Família fizeram com que a Caixa saltasse de cerca de 2.400 unidades, em 2003, para 4.800, em 2013. “Neste período o banco quase que dobrou o número de empregados em todo o país, de 52 mil para cerca de 104 mil bancários”, ressalta. Matileti destacou ainda que o futuro do Brasil está ameaçado caso vença um candidato à presidência da República, que privatize a Caixa e o Banco do Brasil. 
“Dependendo do resultado dessas eleições, este papel social desempenhado pelas instituições públicas estará ameaçado, bem como o emprego e direitos dos funcionários dos bancos públicos e os fundos de pensão das estatais”, alerta. 
A presença do Estado
A economista e professora da UFRJ, Esther Dweck apresentou um gráfico mostrando os efeitos da crise política e institucional no Brasil sobre a recessão econômica do país, que ela considera ainda mais grave do que a situação vivida nos anos 80. A acadêmica declarou que a recuperação econômica será muito mais difícil sem os bancos públicos e que a privatização vai dificultar o combate à crise, elevar ainda mais o dólar e endividar mais as famílias.
“A recuperação lenta que a gente tem vai demorar uns dez anos para o país recuperar o PIB de 2014, antes da crise econômica. As consequências sociais são gravíssimas. O nível de desemprego tende a permanecer por muitos anos”, explica. Ela citou que o estado de bem-estar social aplicado, por exemplo, pelos EUA, após a crise de 1929, baseado na teoria keynesiana, que se opõe ao liberalismo econômico, pois defende a intervenção do Estado no controle da economia nacional, com o intuito de fazer o país atingir o pleno emprego, o que garantiu a recuperação da economia americana.
“Ninguém pode imaginar que o Itaú e o Bradesco, que estão de olho na fatia do mercado controlada pelos bancos públicos, vão investir em habitação popular e programas sociais. A privatização, que volta a ser um risco real dependendo do resultado das eleições, coloca em risco o futuro econômico e social do Brasil”, avalia a presidenta do Sindicato, Adriana Nalesso. 
Participou também do debate, mediado pela jornalista Cynara Menezes, o presidente da Fenae, Jair Ferreira. O evento não contou a presença do economista da Unicamp, Luiz Gonzaga Belluzo, por problemas de saúde. 
Pelo Sindicato, participaram também, os dirigentes José Ferreira, Carlos Lima e Sônia Eymard. O diretor da Fetraf-RJ/ES, Ricardo Maggi, também esteve presente.

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