Segunda, 28 Agosto 2017 00:00

AUMENTO REAL DE 1% EM DOIS ANOS - Foi melhor para todos os bancários

De um total de 300 negociações firmadas nos últimos meses de 2017 entre patrões e trabalhadores de várias categorias, o ganho real médio foi de 0,35%. Destes acordos, os fechados de maio a junho conseguiram índices melhores, sendo que em junho não houve nenhuma negociação com resultado inferior à inflação. O índice médio é consideravelmente inferior ao aumento conquistado pelo acordo de dois dos bancários, que garantiu 1% e mais a inflação acumulada no período.
O setor de serviços conseguiu melhores resultados do que a indústria: 68,2% conseguiram reajuste acima da inflação, entretanto, mais da metade limitou-se a ganhos reais de 0,01% e 0,5%.
“O setor da indústria está patinando e encontra dificuldade para conceder reajustes. Não é o caso dos bancos, que estão ganhando dinheiro como nunca”, afirma o técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), subseção do Sindicato dos Bancários do Rio, Fernando Amorim.
Acordo positivo
Apesar da lucratividade estratosférica do setor financeiro, o economista avalia que, numa conjuntura de reforma trabalhista, as campanhas salariais tendem a estar mais voltadas para salvaguardar os direitos conquistados na convenção coletiva do que lutar por ganho real de salário. Amorim considera que, diante do momento político adverso, foi positivo o acordo de dois anos com 1% de aumento real firmado em 2016 entre os bancários e a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos).
“A gente não sabe o que vai acontecer, mas é fundamental que as categorias se mantenham mobilizadas para impedir a perda de direitos. Os bancários preservaram os direitos de sua convenção coletiva nacional, mas, a partir de 2018, os empregadores tentarão se aproveitar das novas formas de contratação. As demissões estão acontecendo e o objetivo dos trabalhadores neste momento tem que ser muito mais a defesa do que foi conquistado do que a elevação dos salários. Dificilmente os bancários conseguiriam, este ano, um aumento maior do que 1%”, disse.
Reajustes baixos
Amorim disse ainda que os reajustes deste ano ainda estão muito abaixo da média verificada na última década, ainda que um pouco melhor do que 2016.
“A sensível melhora em relação ao ano passado deve-se a redução da inflação. O INPC para a data-base de setembro, deverá ficar em torno de 2,1% a 2,4%. Com este patamar mais baixo fica mais fácil para os empregadores cederem a um aumento salarial um pouco melhor do que no ano passado, porque não pesa tanto no custo das empresas, até porque a rotatividade do emprego no país é muito grande”, explica.
Setor público
Teoricamente, os trabalhadores do setor público têm mais garantias de manutenção dos direitos do que os do setor privado, mas Amorim faz um alerta de que a conjuntura ameaça a toda a classe trabalhadora.
“A situação é negativa também para os funcionários do setor público. Magistrados e categorias que possuem maior capacidade de lobby, de barganha, estão conseguindo seus reajustes. Entretanto, as novas formas de contratação deixam incertezas também para os empregados das estatais e empresas públicas”, afirma.
Só os bancos ganham
Para o economista, as reformas trabalhistas não garantem maior competitividade para as empresas brasileiras e ameaçam a possibilidade de uma futura retomada do crescimento econômico do país. “Achar que estas mudanças nas regras das relações de trabalho vão elevar a competitividade é uma falácia. Um empresário vai reduzir seus custos, mas isto vai ocorrer com todos os seus demais concorrentes de mercado. No agregado, estas reformas são um tiro no pé para o setor produtivo. Quem está por trás, de fato, destas mudanças é o setor financeiro, que continuará ganhando sempre”, conclui.

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