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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Pouco antes da votação do 'PL da Anistia', travestido de 'PL da Dosimetria', Hugo Mota mandou a Polícia Legislativa retirar à força o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ). Foto de reprodução da Agência Brasil.
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Imprensa SeebRio
O povo brasileiro assistiu na noite desta terça-feira (9/12) a uma série de atitudes arbitrárias impostas pelo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), que lembram os tempos sombrios da ditadura no Brasil. O parlamentar, chefe do Centrão (o grupo mais fisiológico do Congresso Nacional), aliado da extrema-direita, mandou a Polícia Legislativa Federal (PLF) retirar à força da Mesa da Presidência da Câmara, o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ). Mota pretende, ainda, aprovar a cassação do mandato de Glauber.
Ao mesmo tempo, impediu a cobertura da imprensa, expulsando os jornalistas do plenário, para que as imagens da remoção à forças do parlamentar da esquerda, não pudessem ser divulgadas; e mandou retirar do ar a TV Câmara. Em seguida, como se nada tivesse acontecido, colocou em votação, sendo aprovado, o projeto de lei de redução da pena do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) e dos demais comandantes da tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, militares e civis.
Para o presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, José Ferreira, as manobras e os ataques truculentos de Motta fazem parte de um acordão entre o Centrão e a extrema-direita, chefiada pela família Bolsonaro, com vistas à eleição do próximo ano. Aprovar o projeto de anistia, travestido de PL da Dosimetria, faz parte deste acordo.
“É uma estratégia para garantir a aliança destes dois grupos que tradicionalmente votam contra a população, com a finalidade de tentar derrotar o presidente Lula em 2026. O objetivo é impor a volta do projeto implantado pelos governos Michel Temer e Jair Bolsonaro de redução do Estado, com a volta das privatizações; retirada de direitos, como aconteceu com a reforma trabalhista, reforma previdenciária e terceirização sem limites; fim dos programas sociais, bem como o desmonte do Sistema Único de Saúde e das escolas, institutos e universidades federais”, denunciou José Ferreira.
Agressão e censura à imprensa – O deputado Glauber Braga fazia um protesto pacífico, ocupando simbolicamente a Mesa da Presidência da Câmara, contra a iniciativa de Motta de tentar aprovar, na calada da noite, o projeto de anistia, travestido do pomposo nome de ‘PL da Dosimetria”. O PL, aprovado horas depois, reduz drasticamente as penas fixadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a Jair Bolsonaro, generais, almirantes e civis, por tentativa de golpe do Estado, em 8 de janeiro. Com um mata-leão, Glauber foi arrastado pela polícia da Câmara até a porta do plenário.
O uso de força contra um parlamentar da esquerda se contrapôs à falta de iniciativa, meses atrás, do mesmo Motta que nada fez para retirar deputados da extrema-direita, que ocuparam a Mesa Diretora da Câmara e lá permaneceram por 48 horas. Não satisfeito, e ignorando todo o caos que pairava na Câmara, assumiu a Presidência da Mesa e passou a colocar em votação vários projetos contra o povo, entre eles o que reduz as penas dos que comandaram a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro.
Para Marcos Aurélio Gomes Ribeiro, professor de História Contemporânea do Brasil da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), todo o episódio fez parte de um golpe que expôs mais uma vez a face da extrema-direita. “E o objetivo final foi aprovação pela Câmara dos Deputados, na calada da noite, quando a maioria dos brasileiros já dormia, do chamado PL da Dosimetria, ou melhor, o PL do golpe”, avaliou.
Para o historiador, a nova manobra do Congresso Nacional revela um cinismo escandaloso. “Para tentar enganar o povo, trocaram o nome da proposta de anistia aos golpistas do 8 de janeiro. Em vez de assumirem que querem absolver quem atacou a democracia, escondem-se atrás da palavra “dosimetria”, como se fosse algo técnico e neutro”, disse.
No seu entender, trata-se de uma artimanha vergonhosa para mascarar impunidade e suavizar o que é, na essência, um projeto de proteção a criminosos. “A mudança de nome não altera a verdade: trata-se de mais um passo para transformar golpistas em vítimas e seus atos violentos em meros ‘excessos’”, argumentou. “O Congresso, novamente, joga contra a sociedade e a favor de quem tentou destruir o país. Depois não querem ser chamados de Congresso Inimigo do Povo”, alfinetou.