Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

Trabalhadores e trabalhadoras, estudantes e representantes de sindicatos, partidos políticos e movimentos sociais realizaram, nesta quarta-feira (10), um protesto contra os atos arbitrários do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB). A mobilização, organizada no Largo da Carioca, no Centro do Rio, ocorreu após Motta pautar no plenário a tentativa de cassação do mandato do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ). O embate se intensificou também porque o presidente da Câmara colocou em votação o projeto que reduz a pena dos envolvidos nos atos golpistas de janeiro de 2023 — medida que pode beneficiar inclusive o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e militares de alta patente já condenados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por atentado ao Estado Democrático de Direito.

Entenda o caso

Glauber é acusado de ter empurrado e retirado do Congresso Nacional, o militante do MBL Gabriel Costanero, em abril do ano passado, após ser insultado pelo jovem de direita. Utilizando esse episódio como pretexto, Hugo Motta — a mando do ex-presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL) — passou a perseguir o parlamentar do PSOL.

Na última terça-feira (9), Motta acionou seguranças da Câmara para reprimir Glauber, o que resultou em empurrões, agressões e intimidação não apenas contra o deputado, mas também contra apoiadores e jornalistas. A postura antidemocrática do presidente da Câmara foi duramente criticada por entidades de imprensa, como a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e a ANJ (Associação Nacional de Jornais). Profissionais de comunicação foram impedidos de filmar e fotografar a repressão policial.

Em reação, Glauber ocupou a cadeira da presidência da Câmara. Novamente, agentes de segurança agiram com truculência e o retiraram à força.

Proteção aos golpistas

Sem qualquer debate, Motta pautou o projeto que pretende reduzir as penas impostas aos responsáveis pelos atos golpistas de 8 de janeiro. A proposta pode diminuir inclusive a pena de Jair Bolsonaro, reduzindo-a para pouco mais de dois anos.

Tratamento diferenciado

Glauber lembrou que, quando parlamentares golpistas invadiram e tomaram a mesa diretora da Câmara em agosto deste ano, nada foi feito por Motta. O Conselho de Ética, inclusive, segue até hoje sem emitir parecer sobre a possível suspensão de três deputados envolvidos no motim que paralisou os trabalhos da Casa por mais de 40 horas. Agora, porém, o presidente da Câmara acelera a votação da cassação de Glauber Braga.

Bancários no ato

Dirigentes sindicais bancários também participaram das manifestações. O presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, José Ferreira, destacou o apoio do movimento sindical e da classe trabalhadora ao parlamentar do PSOL.

“Retirar o mandato do Glauber, além de uma medida truculenta, fere princípios básicos. Façamos um paralelo: em um caso, um deputado abandona o mandato e vai aos Estados Unidos fazer lobby contra os interesses nacionais, o que prejudicaria milhões de brasileiros, inclusive com risco de desemprego. Para esse deputado, propõe-se a cassação sem perda dos direitos políticos. Já para Glauber — que reagiu a inúmeros ataques recebidos ao longo de sua trajetória e cujo episódio, ainda que reprovável, não se compara em gravidade à pretensão de cassar o mandato e os direitos políticos por oito anos. Isso é um sinal claro de uma ditadura parlamentar, em que direita e ultradireita se unem para tentar calar Glauber Braga”, afirmou Ferreira.

A diretora executiva de Meio Ambiente do Sindicato, Cida Cruz, também manifestou apoio ao parlamentar. “Estamos aqui no Largo da Carioca em defesa do mandato de Glauber Braga e contra a política de dois pesos e duas medidas do presidente da Câmara, Hugo Motta protege criminosos e golpistas enquanto tenta cassar um deputado que sempre esteve ao lado da classe trabalhadora e denuncia os golpes da direita brasileira. Por isso, precisamos estar unidos na defesa do mandato de Glauber”, ressaltou Cida.

A atividade teve continuidade durante a tarde desta terça-feira.