EXPEDIENTE DO SITE
Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
Com informações da CUT Nacional
Uma ideia revolucionária criada por servidores do Banco Central do Brasil e que caiu no gosto popular é o Pix, lançado em dezembro de 2018. O meio de pagamento instantâneo — que permite transferências e depósitos em tempo real — incomoda não apenas as bandeiras estrangeiras de cartões de crédito e débito, como também os grandes bancos nacionais e internacionais. Mesmo assim, já se consolidou no cotidiano da população e no próprio sistema financeiro nacional.
Agora, o modelo brasileiro começa a ganhar o mundo em uma expansão aparentemente irreversível. Cidades como Paris (França), Lisboa (Portugal), Buenos Aires (Argentina), Ciudad del Este (Paraguai) e até Miami (EUA) passaram a aceitar pagamentos via Pix de turistas brasileiros. Diante da perda de bilhões de dólares pelas empresas de cartões, que tradicionalmente cobram taxas e juros elevados, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, passou a atacar o Pix para defender os interesses dessas corporações transnacionais, como Mastercard e Visa. Além do temor da perda da hegemonia no dólar no mercado internacional, a Casa Branca tem medo do avanço do pix no mundo.
Segundo reportagem da jornalista Rosely Rocha, publicada pela CUT Nacional, os Estados Unidos monitoram o Pix desde 2022. Um documento oficial do Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR) revela que o governo norte-americano está "preocupado com os impactos da popularização da plataforma brasileira de pagamentos instantâneos".
Trump justificou o tarifaço de 50% sobre exportações brasileiras como uma reação às chamadas “práticas comerciais desleais”, fazendo referência direta ao uso do Pix. Os ataques à soberania econômica brasileira e ao sistema de pagamentos contam com apoio de figuras da extrema direita brasileira, como o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e seu pai, Jair Bolsonaro (PL), que atualmente reside nos EUA. Parlamentares da extrema-direita chegaram a hastear uma bandeira dos EUA no Congresso Nacional, em gesto de apoio às medidas de Trump contra o Brasil. O governador de São Paulo Tarcísio de Freitas é outro expoente bolsonarista que apoia as medidas da Casa Branca contra a economia brasileira.
O ex-presidente norte-americano é um aliado histórico da família Bolsonaro e uma de suas principais inspirações, inclusive nos ataques às instituições democráticas.
Embora os pedidos de Eduardo Bolsonaro possam ter influenciado a decisão de Trump, a principal motivação do presidente americano para atacar o Pix e impor tarifas às exportações brasileiras é a defesa dos interesses do grande capital norte-americano — especialmente as gigantes do setor de cartões de crédito, como Visa e Mastercard.
Ao optar pelo Pix como meio de pagamento à vista, pessoas físicas e microempreendedores individuais (MEIs) não pagam tarifas. Já as empresas (pessoas jurídicas) arcam com uma taxa média de apenas 0,33% por transação — e, em alguns bancos, a cobrança é até isenta. Em comparação, comerciantes pagam entre 1,23% e 2% por transações via cartão de débito e de 3% a 5% nas operações com cartão de crédito. Essa diferença tem levado muitos brasileiros a abandonarem os cartões, gerando perdas significativas para as operadoras internacionais.
Segundo a economista Vivian Machado, da subseção do Dieese na Contraf-CUT, o Pix tem reduzido drasticamente os lucros das empresas de cartões de crédito, como mostram dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
“Em 2020, por exemplo, as transações com cartão de crédito representavam 22% do total; hoje, são apenas 14%. Já o cartão de débito caiu de 25%, em 2023, para 11% no primeiro semestre de 2025”, afirma Vivian.
Enquanto isso, o Pix se tornou o meio de pagamento mais usado no Brasil, superando o cartão de débito e o dinheiro em espécie. Pesquisa do Banco Central mostra que 76,4% da população utiliza o Pix, contra 69,1% que usam cartão de débito e 68,9% que ainda utilizam dinheiro físico.
O volume movimentado pelo Pix em 2024 atingiu R$ 26,455 trilhões, com 63,5 bilhões de operações — um crescimento de 54% em relação a 2023, quando o total foi de R$ 17 trilhões. No mesmo período, as compras com cartões de crédito, débito e pré-pagos somaram R$ 4,1 trilhões, um crescimento de apenas 10,9%.
“O ataque de Trump é por conta disso. Embora o volume total de transações com cartões ainda cresça, a participação percentual no mercado caiu, enquanto o Pix cresceu muito mais”, explica a economista.
O avanço do e-commerce também reforça essa tendência. Projeções indicam que, até 2030, cerca de 58% das compras online serão feitas via Pix. Com a expansão internacional do modelo brasileiro, está explicado o desespero do presidente dos EUA — e das empresas Mastercard e Visa.