Terça, 11 Fevereiro 2025 18:26
FATO E VERSÃO

Economistas contrariam previsões negativas sobre dívida e déficit nas contas públicas

No Brasil a dívida pública atinge 76% do PIB. Em países como os EUA, Japão e Espanha o índice ultrapassa os 100%

 

Carlos Vasconcellos 

 

Imprensa SeebRio 

Com informações da Contraf-CUT 

O mercado financeiro e a grande mídia têm feito previsões pessimistas em relação à inflação, aumento dos juros e da dívida pública. 

A alegação é a de que o governo Lula "gasta" muito e a chiadeira é sempre quando se trata de investimentos sociais, que atendem aos trabalhadores mais pobres. Gastos como isenção fiscal para grandes empresas e os mais de R$400 bilhões previstos de financiamento para o Agronegócio, são exigências dos parlamentares do Congresso Nacional que representam estes setores e a mídia defende sempre com a falsa alegação de que é para "garantir e gerar mais empregos". Metade dos impostos arrecadados que vão para o pagamento dos juros da dívida pública aos bancos, nem se fala. Alegam até de que não se trata de "gastos correntes" 

(despesas da União com bens e serviços que são consumidos no ano corrente). 

Contraponto 

No entanto, economistas mais progressistas contrariam as teses do mercado, como é o caso do professor da Unicamp, Marcelo Manzano. Segundo ele, o déficit é justificável, compreensível e, é necessário porque os serviços que o Estado faz, o setor privado não quer fazer.

“Alguém precisa fazer mesmo que tenha prejuízo, mesmo que não tenha resultado econômico, digamos assim. O Brasil não tem um problema fiscal grave ou não tem problema fiscal nenhum”, afirma, destacando que o Estado não é para dar lucro. 

Para Manzano o que está por detrás das críticas tem uma intoxicação ideológica, uma espécie de queda de braço entre o setor financeiro e o governo, que não é só neste governo, mas sob a presidência de Lula se faz também por questões partidárias e ideológicas.

“Esse embate é mais intenso, mas há sistematicamente no Brasil uma queda de braço entre o setor que se beneficia da rentabilidade dos altos juros. E o sistema financeiro chantageia, num certo sentido, pressiona o governo a cortar as despesas públicas, alegando que na ausência de cortes, será necessário subir a taxa de juros”, disse o economista. 

A economista, supervisora técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em Brasília, Mariel Lopes entende que a atuação do governo federal em investimentos sociais está correta e que isso irá refletir dentro de alguns anos com a queda da dívida, a partir do momento em que a população tiver maior poder de compra. Segundo ela, as necessidades de financiamento desse déficit vão se tornando menores, justamente porque a expectativa é que o governo não precise fazer esses investimentos tão altos, geralmente no período de 30 a 40 anos.

“Estamos num período em que é preciso fazer uma expansão muito grande de gastos sociais, de investimentos públicos, para resolver várias questões estruturais que o país tem. Temos muitas famílias que ainda vivem numa situação muito precária, então faz parte da lógica econômica de que o governo se endivide para ter resultados a longo prazo para conseguir retirar essas famílias da pobreza”, disse Mariel, em entrevista ao site da CUT (Central Única dos Trabalhadores). 

A economista do Dieese reforça ainda que um indicativo de melhoria das condições econômicas do país é o aumento da arrecadação do governo federal. A arrecadação fechou o ano passado em R$ 2,709 trilhões. É o maior valor registrado na série histórica, iniciada em 1995. Descontada a inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o arrecadado ficou em R$ 2,653 trilhões, o que representa um crescimento real de 9,6% em 2024, na comparação com o ano anterior.

Especulação financeiro 

Outro indicativo de que o mercado financeiro trabalha com especulação é o valor do dólar, que chegou a um patamar de R$ 6,26 e vem caindo por 12 dias seguidos fechando na sexta-feira (7) a R$ 5,74, apesar de nova alta na manhã desta terça-feira (12), chegando a R$ 5,79, numa oscilação meramente especulativa. 

Segundo analistas econômicos, a queda reflete a taxa de desemprego nos EUA. A previsão era de que fossem criadas cerca de 170 mil vagas, mas o país chegou a 143 mil.

Taxa de desemprego 

Uma das queixas do mercado financeiro é o aumento do consumo e da renda dos trabalhadores e trabalhadoras, o que provoca naturalmente um aumento de preços, devido à demanda maior do que a oferta produzida. 

A média da taxa anual de desemprego em 2024 ficou em 6,6%, o menor índice desde 2012.

“É uma disputa ideológica e de interesse econômico e que no Brasil, dada essa aliança rentista entre as forças que têm poder no Brasil, que defendem esse status quo, são beneficiárias dessa situação. Eles não concordam com esse tipo de construção de sociedade porque ganham dinheiro com isso. Então, há um conluio para manter esse discurso contra o Estado, esse discurso ameaçador de que o Estado está à beira da falência”, critica Manzano.

“Entra governo, sai governo e não se consegue no Brasil quebrar esse conluio que acaba dominando corações e mentes”, acrescenta Manzano.

Juros altos: quem ganha

O Brasil possui os maiores juros reais do Planeta, superando até mesmo a Rússia em guerra e sob forte pressão do embargo econômico dos EUA e da Europa. 

Toda vez que o governo investe mais, causando um déficit na dívida pública, o mercado financeiro reage pressionando para que o Banco aumente os juros. Hoje a taxa Selic está em 13,25%, enquanto a inflação oficial fechou 2024 em 4,83%. A cada um ponto percentual dos juros, a dívida pública aumenta em R$ 50 bilhões, o que é uma contradição, já que desta forma, o governo cada vez mais fica endividado.

“É um enredo muito conveniente daqueles que vivem da dívida pública, que são beneficiários dessa taxa de juros indescritível. Então, é um embate ideológico entre grupos e entes que se beneficiam desse estado e, que precisam demonstrar que estamos à beira de um precipício das contas públicas”, revela Manzano.

A supervisora técnica do Dieese também critica o mercado financeiro que utiliza a taxa de juros como forma de pressão junto ao governo federal.

“A gente não tem nenhum problema de financiamento dessa dívida nos últimos anos. A questão é que quando tem essas crises de confiança, o mercado brasileiro, pressiona para que os juros que o governo paga fiquem mais altos. Os chamados juros futuros que o governo tem que pagar nos títulos da dívida estão mais longos, acabam aumentando e, isso tem um custo para o governo, porque vai espalhar os juros dessa dívida em algum momento”, diz Mariel.

“E segundo, em relação a déficit, quer dizer, os resultados de a cada ano que corre, de fato o Brasil tem um déficit muito alto. Mas se a gente olha não tem mistério nenhum, pois o principal problema do nosso é justamente o pagamento da taxa de juros”, acrescenta a economista.

De acordo com o economista da Unicamp, o mercado financeiro e a mídia corporativa acabam inventando argumentos para manter os juros altos.

“É quase um escárnio, porque qualquer criança pode observar que não é isso que acontece, mas é isso que prevalece no discurso da imprensa corporativa, e é essa a ideia que se vende”, declara Manzano.

Em outros países

A dívida pública é o estoque de tudo o governo deve em relação ao PIB e, segundo Manzano, o Brasil é absolutamente comportado com a dívida chegando a 76% do Produto Interno Bruto (PIB). Mas países desenvolvidos possuem uma relação dívida muito maior em relação ao PIB do que a nossa. O Japão chega a mais de 200% os Estados Unidos e a Espanha é mais de 100%. 

“Essa gritaria de que a nossa dívida pública estaria caminhando por um cenário incontrolável, de jeito nenhum isso é verdade, é absolutamente falso”, afirma Manzano.

De acordo com ele, foi graças à condição que o governo teve de ampliar em 2% do PIB em 2023, que a economia conseguiu se recuperar, acima de todas as expectativas do mercado. 

Em outras palavras, não há, em lugar nenhum do Planeta, desenvolvimento econômico sem investimentos do estado

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