Sábado, 31 Agosto 2024 18:51
A CAMPANHA DA DIGNIDADE

Após pressão nacional da categoria, Fenaban concede aumento real e desiste de escalonamento nos reajustes

Bancários e bancárias superam desafios das transformações no sistema financeiro que dificultam mais a organização coletiva de luta e conseguem melhorias importantes na proposta dos bancos, que será deliberada em assembleia na quarta-feira (4/9)
A mobilização da categoria e a pressão do Comando Nacional dos Bancários garantiram avanços na mesa única da Fenaban A mobilização da categoria e a pressão do Comando Nacional dos Bancários garantiram avanços na mesa única da Fenaban Foto: Contraf-CUT

 

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio 

Após enfrentar seguidas tentativas dos bancos de impor retirada de direitos e prejuízos para a categoria e de 13 exaustivas rodadas de negociações, chegando a entrar pela madrugada deste sábado (31), finalmente a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) apresentou melhorias na proposta da mesa única em relação ao que vinha oferecendo. 

Os bancos desistiram de impor o escalonamento dos índices de reajuste por faixa salarial que seria pago até janeiro de 2025 – dividindo a categoria e impondo perdas nos ganhos salariais – e aceitaram garantir o mesmo aumento real para todos os bancários e bancárias, preservando uma conquista histórica da qual os sindicatos não abrem mão. 

A nova proposta foi apresentada na sede do Sindicato de São Paulo. 

Os índices de reajuste

Caso seja a proposta seja aprovada nas assembleias, estará garantido para todos os bancários e bancárias o aumento real por dois anos: para este ano de 2024 um reajuste de 4,64% sendo 0,7% de aumento real, repercutindo em todas as verbas remuneratórias, incluindo os tíquetes alimentação (VA), refeição (VR), auxílio creche/babá e na Participação nos Lucros e Resultados (PLR) neste ano. Para 2025, o aumento real será de 0,6% mais a a inflação do período, para salários, PLR, VA/VR e demais cláusulas econômicas. 

O ganho real deste ano e do ano que vem será, portanto, de pelo menos 1,31%, podendo ficar acima disso dependendo do comportamento da inflação. 

"Todo esse esforço reflete o histórico de luta e força das bancárias e bancários. Caso o resultado dessa negociação seja aprovado nas assembleias, vamos ampliar de 119 para 129 cláusulas na CCT, sendo que 116 nos garantem direitos acima da lei. Isso faz com que nossa categoria continue a ser referência para os demais trabalhadores", avalia a presidenta da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), Juvandia Moreira, que destacou como importantes conquistas, o abono de ausência para conserto ou reparo de próteses aos trabalhadores com deficiência, além de um novo Censo da Diversidade e iniciativas de requalificação para adaptação frente às novas tecnologias, com ênfase para as mulheres. 

Os sindicatos conquistaram ainda, a antecipação da 13ª cesta alimentação para outubro e a da PLR ainda para este mês de setembro. 

Os bancos queriam um índice abaixo da inflação, o que representaria perdas enormes para a categoria. E o pior, a Fenaban defendia ainda restringir a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) apenas para os trabalhadores dos cinco maiores bancos, o que evidentemente não foi aceito pelo Comando. 

Assembleias na quarta

Sindicatos dos bancários de todo o país realizarão assembleias por meio virtual (a fim de ampliar o número de participantes) das 20h dessa quarta-feira (4) até às 20h de quinta-feira (5) para que a categoria delibere sobre a proposta. O Comando Nacional indica a aprovação.

Como votar na assembleia 

As assembleias serão realizadas virtualmente por meio do VotaBem (https://bancarios.votabem.com.br) e serão precedidas de plenárias (presenciais, híbridas ou virtuais), para a livre manifestação de todas as bancárias e bancários, sócios ou não sócios.

O site do Sindicato do Rio irá publicar o link para participação nas plenárias e na assembleia. 

Fruto da mobilização 

Os avanços na mesa de negociação não vieram ao acaso. A categoria realizou uma forte mobilização nacional nos locais de trabalho e nas redes sociais, em que as hashtags da campanha na Rede X, antigo Twitter, ficaram no topo dos temas mais comentados, o que mexeu com a imagem das instituições financeiras. 

Na sexta-feira (30), as redes foram tomadas pela mobilização contra os altos juros no Brasil, os maiores do mundo, o que envolveu compartilhamentos na sociedade. 

A adesão dos trabalhadores e a estratégia do movimento sindical surtiu efeito e o Comando conseguiu reverter um reajuste abaixo da inflação e a divisão da categoria em vários índices, com prejuízos flagrantes, preservando direitos históricos para todos os bancários e bancárias  

"A Campanha Nacional dos Bancários de 2024 foi cercada de enormes desafios em função das profundas mudanças que vêm ocorrendo no sistema financeiro. A introdução de novas tecnologias somadas à desregulamentação dos direitos do trabalho promovida nos governos Temer e Bolsonaro, o fechamento de agências físicas com a migração para o atendimento digital e o aumento exponencial do uso de tecnologia pelos clientes, além da ganância dos bancos por lucros e rentabilidade cada vez maiores, resultando na redução dos postos de trabalho, aumentou a necessidade de maior organização coletiva para enfrentarmos estas transformações", disse o presidente do Sindicato do Rio de Janeiro José Ferreira, que faz parte do Comando e participou das negociações da Campanha Salarial na capital paulista.

O dirigente sindical do Rio criticou ainda o uso indevido por parte dos bancos de interditos proibitórios e as dificuldades de acesso dos dirigentes sindicais em aos empregados que trabalham remotamente com celulares e notebooks, desafiando ainda mais a luta coletiva dos trabalhadores e mostrando a importância da superação destes desafios na campanha salarial e nas negociações deste ano pelos bancários.  "Todos esse conjunto de adversidades interfere profundamente nesse contexto em que para arrancamos uma proposta ideal é necessário uma greve forte e longa com bancários e bancárias, não só recusando o trabalho em nome do direito de greve, mas também, como em outros momentos históricos, contribuindo ativamente para que outros colegas também façam a greve", acrescentou Ferreira.

Pisos e qualificação 

Um item importante da proposta é o aumento de 8% na verba de requalificação, que passa para R$2.285. 

Já no piso de contínuos e de portaria, o reajuste salarial é de 15%. 

Igualdade de gênero 

Em questões relacionadas à luta pela Igualdade de Oportunidades, também houve avanços. O setor financeiro elevou para 3 mil o número de vagas para a contratação de TIs (Técnicos da Informação), além de medidas que beneficiam a comunidade LGBTQIA+ e as Pessoas com Deficiência (PcDs) ou responsáveis por dependentes nesta situação. 

Outras conquistas

- Combate ao assédio moral, sexual e outras formas de violência no trabalho

- Pela primeira vez, os bancos concordaram em incluir explicitamente o termo "assédio moral" nas negociações, atendendo a uma reivindicação histórica da categoria.

- Ficou estabelecida uma manifestação de repúdio contra qualquer tipo de violência no ambiente de trabalho, reforçando o compromisso com um ambiente seguro e respeitoso.

- Criação de um canal específico para denúncias de assédio e outras formas de violência, que incluirá também atendimento às bancárias vítimas de violência doméstica.

- Concessão de 3.000 bolsas de curso para capacitar mulheres, pessoas trans e PCDs em programação, visando aumentar a representatividade feminina no setor tecnológico, realizado pela Progra{maria}

- Além disso, 100 bolsas serão oferecidas para programa intensivo de aprendizagem, voltado para a formação avançada de mulheres na tecnologia, realizado pela Laboratória. Ex-bancárias poderão participar dos cursos

- As indicações para às vagas terão também a participação dos sindicatos de todo o país

- Concessão de abono de ausência para conserto ou reparo de próteses, garantindo que trabalhadores com deficiência possam atender às suas necessidades sem prejuízo.

- Os bancos se comprometem a manifestar publicamente o repúdio à violência contra a mulher, além de disseminar informações e recursos para apoiar a prevenção desse tipo de violência.

- Compromisso com a igualdade salarial entre gêneros.

- Adesão ao Programa Empresa Cidadã, garantindo licença-maternidade de 180 dias e licença-paternidade de 20 dias

- Em caso de desastres naturais ou outras calamidades, como ocorreu em Porto Alegre este ano, será garantida a criação de um Comitê de Gestão de Crise, quando solicitado pelo Comando Nacional dos Bancários. O comitê terá a autorização prévia para tomar decisões necessárias que assegurem a proteção e os direitos dos bancários afetados, além de implementação de medidas trabalhistas específicas durante situações de calamidade para assegurar vida e o bem-estar dos trabalhadores.

- A Fenaban se comprometeu a planejar em 2025 e realizar até o final de 2026 uma nova edição do Censo da Diversidade do Setor Bancário, para mapear e promover a diversidade no setor.

- Iniciativas de requalificação profissional para adaptar a força de trabalho às novas demandas tecnológicas.

- Os bancos reforçam seu repúdio à discriminação e garantem o uso do nome social para pessoas transgênero, antes mesmo da obtenção do registro civil, promovendo um ambiente de trabalho inclusivo.

 

 

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