Sexta, 09 Agosto 2024 16:49
TECNOLOGIA E EMPREGO

Trabalhadores precisam debater avanço da IA e incluir tema nos acordos coletivos

A questão é um grande desafio para o movimento sindical e tem sido debatido pela CUT e demais centrais sindicais
Trabalhadores precisam debater avanço da IA e incluir tema nos acordos coletivos Imagem: Divulgação

 

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio 

O uso cada vez maior da inteligência artificial no trabalho é um dos maiores desafios dos trabalhadores neste século e também para o movimento sindical e está relacionado diretamente à luta pela defesa dos empregos. 

Por isso a Central Única dos Trabalhadores (CUT) tem orientado os sindicatos para que todas as categorias incluam esta questão nos debates e nos acordos e convenções coletivas. 

Situação no setor financeiro 

Os bancos estão entre os setores que mais investem em tecnologia e inteligência artificial no mundo e foram pioneiros no uso de Inteligência Artificial, com destaque para as áreas de segurança, operações de backoffice, biometria e reconhecimento facial. 

Segundo a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), as operações bancárias via celular já respondem por pelo menos 70% no Brasil. A entidad informou que os bancos deverão investir em IA, em 2024, R$47,4 bilhões.

Aa consequências para a categoria bancária já são uma realidade e um desafio para os sindicatos, com o fechamento de agências físicas e o aumento crescente nas demissões de funcionários. 

O trabalhador e a IA

O Secretário de Relações Internacionais da CUT, Antônio de Lisboa Amâncio Vale, em entrevista publicada no site da entidade, falou sobre a relevância do debate sobre este tema no movimento sindical. 

"Precisamos ter claro que as tecnologias são conquistas da humanidade e, portanto, têm que ser colocadas a serviço dela. No entanto, a IA está servindo na verdade, como todas as outras tecnologias, para concentrar poder geopolítico, econômico e financeiro", avalia. .

Substituir mão de obra

Uma grande preocupação das pessoas é em relação à substituição de mão de obra e um exemplo real dessa preocupação é o processo de fechamento de agências físicas e a ampliação das operações bancários via aplicativos e plataformas digitais. 

O presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, José Ferreira, falou sobre esta situação no sistema financeiro e seus impactos sobre a categoria bancária. 

"Estamos enfrentando na categoria um processo pesado de extinção de agências e demissões. É preciso debater os impactos das novas tecnologias no emprego e na vida das pessoas",  disse. 

Para Lisboa há ainda muitas indagações e dúvidas sobre o tema. "Não existe nenhuma comprovação de que todos os trabalhadores que perderão seus empregos para a IA serão transferidos para outros tipos de trabalho. 

"Muitos trabalhadores serão absorvidos por outras atividades profissionais, mas isso exigirá políticas públicas e investimentos em educação científica e tecnologia, e mobilização e ação sindical por meio da negociação coletiva", explicou o dirigente da CUT. 

"Tem que ser feita também, com a ajuda das univenersidafes, estudos sobre este tema e incluir essa questão na negociação coletiva. Essa discussão não é só no Brasil, ela é internacional", acrescentou. 

Para os dirigentes sindicais, além de colocar esta questão nos processos de negociação coletiva, nas pautas de reivindicação dos trabalhadores, é preciso fazer parcerias com as universidades, pesquisadores e organismos internacionais que estudam os impactos da IA na sociedade e, em especial, no mundo do trabalho, a fim de garantir a manutenção dos empregos dos trabalhadores. 

Lisboa ressalta que a CUT tem debatido o tema para criar estratégia de como enfrentar o assunto, que "passa pela inclusão da IA e suas consequências no trabalho na negociação coletiva". 

Redução da jornada 

O presidente do Sindicato José Ferreira lembra que a reivindicação da categoria bancária pela redução da jornada de cinco para quatro dias semanais sem diminuição dos salários faz parte desta estratégia de buscar o uso das tecnologias em favor dos trabalhadores e trabalhadoras e não para concentrar ainda mais a renda e elevar as desigualdades. 

"As novas tecnologias e em especial a IA não podem continuar a serem usadas por banqueiros e empresários para extinguir empregos e gerar mais miséria na sociedade com o único objetivo de elevar os lucros, mas precisa centrar na redução da sobrecarga de trabalho para garantir mais aos empregados mais tempo para o lazer, estudos, descanso e convívio com a família a fim de proporcionar para as pessoas mais saúde e qualidade de vida. Além disso, a redução da jornada pode gerar mais empregos e aumento da produtividade nas empresas. E é isso que queremos para todos os bancários e bancárias e demais categorias de trabalhadores", explicou, destacando que "as experiências feitas por empresas na redução da jornada, inclusive no Brasil, mostram que a medida, de fato, melhora a produtividade". 

"A IA está aí, avançando em todos os setores da economia e no mundo do trabalho, é uma realidade no mundo, mas a questão é de como ela será utilizada e, por isso, a classe trabalhadora precisa se apropriar deste debate a respeito da designação, objetivos e da forma em que essas novas tecnologias deverão ser usadas. Nós, do movimento sindical, defendemos que elas sejam instrumentos para promoção do bem estar social e da melhora da qualidade de vida dos trabalhadores e trabalhadoras", completou Ferreira. 

Questão ambiental 

O tema do atual controle da IA e novas tecnologias pelo grande capital, além de ameaçar os empregos dos trabalhadores e aprofundar as desigualdades sociais, traz uma outra preocupação: as consequências ambientais sobre o Planeta. 

"Estudos mostram que a produção e uso da IA consomem 14% da energia do planeta, além de um enorme consumo de água para a refrigeração, o que representa uma grande preocupação em relação à crise climática e ambiental que já é uma realidade complexa e desafiadora que estamos enfrentando", afirmou a diretora executiva da Secretaria de Meio Ambiente do Sindicato dos Bancários do Rio, Cida Cruz.

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