Quarta, 31 Julho 2024 16:22

Protestos vão pressionar bancos a avançar nas negociações sobre a saúde dos bancários

Olyntho Contente

Imprensa SebRio

Esta quinta-feira (1º/8) é dia de protestos nos 26 estados e em Brasília, como parte da Campanha Nacional dos Bancários. Será um Dia Nacional de Luta com manifestações para pressionar a Federação Nacional dos Bancos, a Fenaban, a responder positivamente à reivindicação da categoria de inclusão de cláusulas na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) que reduzam o adoecimento, causado, sobretudo, pela pressão e assédio moral ligados às metas.

Além das atividades de rua, a categoria pode participar através das redes sociais. As ações ocorrerão em resposta à Comissão de Negociações da Fenaban que, na última mesa de negociação, no âmbito da campanha nacional de renovação da CCT, relatou que não existem dados suficientes que comprovem que casos de adoecimento mental estão ligados à atividade de trabalho.

Pressão no Rio – No Rio de Janeiro o Sindicato dos Bancários e Financiários vai colocar nas ruas da Penha, uma caravana para agitar este importante bairro da Zona Norte, denunciando à população a sobrecarga de trabalho e a queda na qualidade do atendimento causadas pelas demissões e fechamento de agências, bem como a pressão das metas e o adoecimento psíquico.

O presidente do Sindicato, José Ferreira, falou sobre os objetivos principais das manifestações. “A postura negacionista da Fenaban, no trato das cláusulas de nossa minuta de reivindicações em relação às questões de saúde dos bancários e bancárias, merece de nós um firme combate. Por isto mesmo o Rio de Janeiro se soma ao restante do país nesse dia de protestos em defesa de nossa saúde e da dignidade no exercício das atividades bancárias”, afirmou.

Saúde mental em risco nos bancos – A coordenadora do Comando Nacional dos Bancários, Juvandia Moreira e presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), também falou sobre o tema. "Ainda na mesa, rebatemos as afirmações com dados da própria Organização Mundial de Saúde (OMS), entidade que afirma que as condições de trabalho podem afetar negativamente a saúde mental a exemplo do assédio moral que, infelizmente, é uma prática que todos nós reconhecemos que ocorre nos bancos, por isso que, em 2022, inclusive, estabelecemos uma cláusula na CCT de combate a esta prática", afirmou.

Como participar nas redes sociais – Não haverá tuitaço, mas a orientação para esta quinta-feira (1º) é que, nas redes e nos grupos do WhatsApp, os bancários e bancárias compartilhem os materiais de apoio que serão compartilhados por meio das entidades sindicais, com dados sobre o adoecimento na categoria.

A proposta é utilizar sempre a hashtag #MenosMetasMaisSaúde e o mote “Não adianta negar, saúde em 1º lugar”, nas publicações.

Afastamento três vezes maior – O secretário de Saúde da Contraf-CUT, Mauro Salles, ressaltou que a manifestação negacionista dos representantes da Fenaban na mesa é preocupante, considerando o resultado da Consulta Nacional dos Bancários que, neste ano, ouviu quase 47 mil trabalhadoras e trabalhadores, de todas as regiões do país.

"Quando foi perguntado se utilizavam medicamentos controlados (antidepressivos, ansiolíticos, estimulantes), nos últimos 12 meses, 39% afirmaram que sim. Esse dado revela o alto índice de adoecimento mental na categoria", pontuou Salles.

Nessa mesma pesquisa, quando questionados sobre quais são os impactos da cobrança excessiva pelo cumprimento de metas à saúde, podendo escolher múltiplas respostas, os resultados foram:

- 67% - preocupação constante com o trabalho
- 60% - cansaço e fadiga constante
- 53% - desmotivação, vontade de não ir trabalhar
- 47% - crise de ansiedade/pânico
- 39% - dificuldade de dormir, mesmo aos finais de semana

Mauro Salles destacou ainda que os trabalhadores abordaram na mesa, com a Fenaban, levantamento do Dieese, com base em dados do INSS e da RAIS, e que mostra que o afastamento bancário relacionado à saúde mental, em 2022, foi três vezes maior que a média de afastamentos, considerando todas as categoriais.

"Diante dessas informações, que não são de hoje, mas semelhantes às registradas em anos anteriores, nossas reivindicações são a rediscussão da política de metas nos bancos, para que os prazos sejam razoáveis e respeitados. Também reforçamos o combate ao assédio moral e o direito à desconexão, fora do horário de trabalho. Por fim, reivindicamos que as bancárias e bancários adoecidos tenham tratamento humanizado e condições para se recuperarem e manterem seus empregos", completou Juvandia Moreira.

Metas – A também coordenadora do Comando Nacional dos Bancários, Neiva Ribeiro, ressaltou que o movimento sindical levou à mesa provas suficientes de que "o adoecimento mental dos bancários é maior que em outras categorias" e que por isso, os trabalhadores querem avançar no combate ao assédio moral. Ela lembrou ainda que a pressão para bater metas "também é intensificada pela vigilância de resultados e pela insuficiência de pessoas para realizarem suas tarefas, gerando um ritmo de trabalho excessivo".

Só em 2023, os cinco maiores bancos do país lucraram R$ 108,6 bilhões. Mas, apesar do montante, nesse mesmo ano fecharam mais de 600 agências e demitiram mais de 2 mil funcionários.

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