Quinta, 30 Novembro 2017 00:00

É preciso conter a escalada do fascismo

Sem barrar a onda fascista que ameaça a democracia e a soberania da sociedade brasileira, não haverá desenvolvimento. Este foi o tom do encontro unificado, sexta-feira (27), no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Lago São Francisco.
Organizado pelo Projeto Brasil Nação, Frente Brasil Popular, Frente Povo Sem Medo, com o apoio de sindicatos, entidades civis, parlamentares, juristas, religiosos, trabalhadores e estudantes, o ato político cumpriu seu objetivo de reunir representantes de vertentes diversas do pensamento político brasileiro. Enfatizou-se a necessidade de avançar na defesa dos direitos constitucionais ameaçados pela onda conservadora que cresce no país, impulsionada pela corrupção e pelo atraso, tendo as iniciativas do governo Temer como foco das críticas.
Ao saudar os presentes, o reitor Roberto Leher (UFRJ) afirmou que a democracia é política e economia e lembrou a necessidade de uma agenda de “todos que defendem a democracia”. Citou Hegel, que disse que a pessoa submetida a uma situação de penúria é tão livre como um escravo, para criticar a portaria do governo ilegítimo de Temer, que restabelece o trabalho escravo no Brasil.
O caso Cancellier
A intervenção do desembargador Lédio Rosa de Andrade, sobre o suicídio do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier Oliva (Cal), emocionou a plateia. Foi uma denúncia de voz embargada do caráter fascista dos fatos que levaram à trágica morte (suicídio) do professor universitário catarinense. O magistrado fez um relato veemente sobre “o ritual macabro” de que foi vítima o amigo de infância. “O suicídio de Cal foi o que me trouxe aqui, sua morte trágica foi seu último ato de resistência, ele se viu pego por uma prática fascista que qualquer forma de defesa seria impossível”, disse.
Lédio lembrou que depois de 36 anos de magistratura, hoje se atém a falar de democracia, criticando o sistema oficial de Justiça, prostituído por práticas que suplantam o macartismo (movimento sectário anticomunista comandado pelo senador Joseph Raymond McCarty, nos anos 1950 nos EUA). “Tenho garantias, emprego, salário, mas não me aposento por medo pela minha vida. Lutamos contra a ditadura que era perigosa. Mas hoje o que enfrentamos é mais difícil de combater. Tenho mais medo. Na ditadura, o inimigo era conhecido”, confessou.
Para o desembargador Lédio, o processo do reitor foi ilegal. Sem qualquer intimação, a Polícia Federal foi acionada para efetuar prisões. “Os réus não sabiam da intimação, mas a imprensa sabia. Cal foi preso, algemado, acorrentado pelos pés, e depois de depor durante cinco horas, levado para uma penitenciária, onde foi despido. Examinaram até o seu pênis. “Isso é fascismo!, disse. Mas ainda há tempo de parar. Se o fascismo tomar o poder, só a guerra... Estou envergonhado”. Houve um minuto de silêncio.
O ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, elogiou a fala de Lédio Rosa e acrescentou: “A gente fala em Estado de direito, mas estamos vivendo um Estado de exceção. A marcha do fascismo ameaça todas as conquistas constitucionais. Fui embaixador da Organização Internacional do Trabalho (OIT). O Brasil era modelo de combate ao trabalho escravo, hoje sinto vergonha”, disse, exortando os presentes a se orgulharem da autonomia.
Mulheres
Para a representante da Marcha Mundial das Mulheres, Nalú Faria, “com unidade encontraremos espaços para a resistência contra o fascimo, o conservadorismo e às fobias às orientações sexuais. O Brasil e toda a América Latina, nesse momento, exigem uma profunda reflexão sobre a democracia, buscando a verdadeira dimensão da nossa soberania, dos nossos corpos, nossa subjetividade, a dimensão do nosso território, a nossa vida, sem ficarmos reféns de acordos”, disse.
Ainda discursaram o senador Lindberg Faria (PT), a deputadas federal Jandira Feghali (PCdoB), a presidente da UNE, Mariana Dias, o representante da Frente Povo sem Medo, Vitor Guimarães, a jornalista do Projeto Brasil Nação, Eleonora de Lucena, o deputado federal Ronaldo Lessa (PDT) e outros.
No site do economista Luís Carlos Bresser Pereira um documento com uma lista de assinaturas enumera quatro pontos que preveem: atuação contracíclica do gasto público, para assegurar prioridade à saúde e educação; taxa básica de juros em nível mais baixo; superávit na conta corrente do balanço de pagamentos; e reforma tributária que torne os impostos progressivos.

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