Não foi à toa que a organização do Fórum Sindical Internacional sobre a Digitalização Financeira, realizado na sede da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), em São Paulo, reservou toda a tarde de quinta-feira (26) e a manhã de sexta-feira (27) para abordar os impactos da digitalização no banco Santander.
Ficou nítido que as práticas nefastas são comuns em todos os países que compõem a rede sindical internacional do banco espanhol. Os trabalhadores de Brasil, Paraguai, Chile, Uruguai, Argentina e até da própria Espanha, matriz do banco, sofrem com os mesmos problemas.
Wanessa Queiroz, coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Santander no Brasil, destacou a importância deste tipo de encontro para debater os principais “desafios aos trabalhadores do setor financeiro e ao movimento sindical, frente aos avanços das novas tecnologias, e da necessidade da regulação da Inteligência artificial visando melhores condições de trabalho e o direito a desconexão seja no Brasil como no mundo. O reflexo das reformas trabalhistas em todo o continente é sentindo com a precarização das condições de trabalho tanto para os trabalhadores de agências, como nas áreas administrativas que tem jornadas híbridas e teletrabalho.”
A coordenadora da COE/Santander apontou as práticas antissindicais, “que atingem dirigentes de toda a América”, como um grave problema. “Por isso, nós reforçamos o compromisso da Rede Sindical Internacional do Banco Santander de atuar por melhores condições de trabalho, com foco nas negociações coletivas, para garantir os direitos dos trabalhadores do Santander em todo o mundo”.
Lucimara Malaquias, secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo e funcionária do Santander, concorda com a colega brasileira. “Pelo que a gente ouviu de todos os países, o Santander é o banco que tem mais práticas antissindicais na América e no mundo todo”, lamentou.
Para ela, o maior problema é a terceirização, “pois se o trabalhador for terceirizados, todos os outros problemas vão se expandir, pela falta de garantias e de defesas”. Ela defende uma união global dos trabalhadores. “Para o Santander, essa relação continua sendo de colônia, ele nos trata como terceiro mundo. É exploração predatória, a gente precisa denunciar isso para o mundo”, finalizou.
Problemas regionais
Amalia Castro, representante da La Bancária, da Argentina, disse que a principal dificuldade no país é o teletrabalho. “Os trabalhadores que estão neste modelo sabem que têm direitos, mas não conseguem colocar em prática. Eles sabem que têm de parar em alguma hora, mas não conseguem. Os companheiros que se desconectam continuam trabalhando no celular. Eles querem aumentar seus salários e precisam atingir metas, para isso, trabalham aos finais de semana e feriados”, revelou.
Amália lembrou que é difícil chegar aos trabalhadores que estão trabalhando remotamente. “Agora começamos a utilizar a tecnologia a nosso favor. Temos delegados que estão no modelo online que nos informam das irregularidades. Mas, mesmo assim, é muito difícil que eles tenham o sentimento de pertencimento que os presenciais têm. É muito individualista o modelo adotado pelo Santander, de metas individuais e meritocracia”.
União global
Sonia Lezama, membro do Conselho do Setor Financeiro Privado da Associação dos Bancários do Uruguai (AEBU), foi taxativa. “O Santander é antisindical, um banco completamente antissidincial. Mas, logicamente não declara isso”.
Lezama acredita que encontros como este fórum servem para reunir trabalhadores do banco Santander de vários países para pensarem, em conjunto, estratégias e conhecerem em primeira mão a realidade global do banco no que diz respeito às suas políticas trabalhistas. “É a continuação do trabalho que vem sendo realizado nos últimos anos; durante a pandemia, muitas trocas foram feitas, em toda a América Latina, sobre o impacto da digitalização e as transformações das relações no mundo do trabalho”, afirmou. “Eu acredito que o movimento sindical é mundial e cada um dos seus sindicatos têm de trazer as experiências dos seus países. Além disso, é preciso poder pensar em metas. Nós não vamos avançar sem elas.”
Matriz mantém mesma política Raquel Vicente Acero, da União Geral dos Trabalhadores (UGT) da Espanha, disse que a retirada de direitos e de empregos também é prática do Santander na Espanha. “Esse é o presente do banco Santander em todo o mundo. A partir de 2017, começaram as demissões, outras tantas vieram em 2020. No total, mais 12 mil trabalhadores já foram demitidos na Espanha”.
Raquel acrescentou que “o banco também utiliza terceirizações por aqui (lá na Espanha)”. Para piorar a situação, o exemplo do Santander foi seguido por outros bancos. “Com isso, o setor financeiro teve uma perda de quase 43% dos trabalhadores, ou seja, mais de 120 mil trabalhadores perderam o emprego”.
Para ela, o futuro é um caminho em direção à digitalização e à eliminação de vários processos. “Vai levar a várias demissões, muitas pessoas ainda vão perder o emprego. E o banco Santander vai continuar sendo líder nesse projeto”, lamentou. “Nós precisamos nos interrelacionar, trocar opiniões, pois os problemas são comuns e o futuro nós sabemos. Agora devemos nos antecipar aos problemas da digitalização e apoiar os trabalhadores. Por isso é tão importante eventos como esse”, finalizou.