Terça, 28 Novembro 2017 00:00

A MÁFIA DAS EMPRESAS DE ÔNIBUS - Rodoviários fazem greve por atraso de salários e para receber 13º e cesta básica

Rodoviários de quatro empresas de ônibus que circulam na Zona Norte do Rio entraram em greve nesta terça-feira (28): Trabalhadores das viações Rubanil, Candelária e Américas paralisaram as atividades porque, apesar dos patrões ganharem rios de dinheiro, as empresas atrasam salários, se negam a pagar o 13º e não fornecem a cesta básica a que têm direito os funcionários. Na empresa Nossa Senhora de Lourdes, os empregados também cruzaram os braços para reivindicar o pagamento do décimo-terceiro salário. Os proprietários querem dividir o pagamento do 13º em cinco vezes, o que não foi aceito pelos rodoviários, que já admitem aceitar até em três parcelas.

Segundo a RioÔnibus, 137 mil passageiros são atendidos por dia por essas quatro viações, que operam 13 linhas. Muita gente ficou sem transporte público para chegar ao local do trabalho. Mas, o que a população muitas vezes não sabe e a imprensa não diz é que a reivindicação dos trabalhadores é justa e os empresários do setor ficaram milionários com as passagens mais caras da América Latina e péssimos serviços prestados.

Preços abusivos

Os empresários alegam uma crise no setor e querem novo aumento no preço das passagens. No início de novembro deste ano, a Justiça do Rio acatou uma ação movida pelo Ministério Público Estadual, que determinou, a redução das passagens de ônibus na cidade de R$3,80 para R$3,60 e, posteriormente, para R$3,40), por considerar abusivo o decreto 41.190/2015, que autorizava o aumento da tarifa. A decisão foi da juíza Luciana Losada Lopes, titular da 13ª Vara de Fazenda Pública do Rio.

Dinheiro tem

Não é de hoje que as empresas de ônibus conseguem aumentar as tarifas, sem melhorar a qualidade dos serviços. Ainda na gestão do prefeito Cesar Maia, as tarifas tiveram um reajuste de quase 40% com o compromisso de que toda a frota teria ar-condicionado. Até hoje a meta está longe de ser cumprida. Cerca de 54,3% dos veículos não tem ar e a maioria dos “quentões” estão nas linhas das regiões mais pobres.

Segundo o promotor de Justiça, Marcus Leal, coordenador do Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente, incentivos tarifários de 2013 a 2016 foram incorporados ao valor das passagens para a climatização dos ônibus, o que não ocorreu até hoje. O valor total de R$3,5 bilhões arrecadado com estes reajustes das tarifas no período, segundo o magistrado, daria para trocar toda a frota atual de 9.576 por novos veículos com ar-condicionado.

Ao que parece, os empresários usaram todo o dinheiro para enriquecer ainda mais seus patrimônios, deixando a população a sofrer no verão de mais de 40º com ônibus que, além de não possuíram refrigeração, atrasam constantemente, estão sempre lotados e não possuem nenhuma segurança.

O dia em que o governo encampou as empresas de Jacob Barata

As empresas de ônibus não são proprietárias das linhas e do transporte público, que se dá por concessão. Entretanto, os empresários são obrigados a prestar serviços de qualidade. Mas, este compromisso social está longe de se tornar realidade no Rio de Janeiro.

A prisão do megaempresário do setor de transporte do Rio Jacob Barata, e as revelações da investigação sobre o esquema de corrupção envolvendo o governo e o legislativo estadual e empresas de ônibus, estarrecem pelo volume de dinheiro e pelo tempo que o esquema durou no estado. Afinal, são os empresários do setor um dos maiores financiadores de campanha política em troca de renovação de novas concessões e de uma fiscalização frouxa abastecida por propinas e caixa dois. Mas nem sempre foi assim. Em 1985, o então governador do Rio, Leonel Brizola, encampou 1.817 ônibus de 16 empresas, a maioria da família de Jacob Barata. A ideia era oferecer transporte de melhor qualidade por um preço justo. Ao anunciar a medida, Brizola fez questão de frisar que estava apenas defendendo a população do cartel formado pelas empresas. A imprensa, especialmente a TV Globo, iniciou uma campanha contra a CTC (Companhia de Transportes Coletivos) e a decisão do governador de encampar as empresas. Com a eleição de 1986, o então governador Moreira Franco (PDS), hoje um dos principais articuladores do golpe contra Dilma Rousseff que levou Michel Temer ao poder, não só devolveu todos os veículos e empresas aos proprietários, como indenizou, com dinheiro público, os empresários. Claro, o gato angorá (apelido de Moreira dado por Brizola) era um dos políticos financiados pela máfia dos ônibus do Rio, que continuam, até os dias atuais, dominando a política no estado.

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