Segunda, 26 Outubro 2020 18:41

Caixa: entidades dos empregados cobram diálogo com os trabalhadores

Bancários querem o fim das metas abusivas e assédio moral em plena crise da pandemia e manutenção de rodízio dos empregados

A presidenta do Sindicato dos Bancários do Rio Adriana Nalesso e o diretor da entidade José Ferreira, além de Rogério Campanate e Maria Oliveira representando a Agecef/Rio (Associação dos Gestores da Caixa), Paulo Matileti e Sérgio Amorim representando a Apcef/RJ (Associação do Pessoal da Caixa), tiveram uma reunião com o Superintendente de Rede da Capital do banco, Luciano Medeiros, a Superintendente Executiva de Governo, Carolina Alvim e a Gerente de Rede Carla Cristina. O objetivo do encontro, realizado no último dia 16 de outubro, foi de estreitar a relação das entidades representativas dos empregados com a empresa, em busca de solução para as demandas dos empregados, reuniões que ocorreram nacionalmente.

Em busca de diálogo

Luciano Medeiros ressaltou que no Rio de Janeiro a empresa tem mantido aberto o diálogo com as entidades e os representantes dos trabalhadores. Na reunião foram tratados vários pontos referentes ao estresse crescente dos empregados da Caixa.

“A otimização de processos, como a automatização dos cálculos para pagamentos de alvarás trabalhistas, somente são possíveis a partir da percepção das necessidades da base, por isso reforçamos o papel das entidades representativas no sentido de apurar e encaminhar essas necessidades e apresentá-las à empresa para que sejam estudadas e adotadas as devidas soluções”, disse Campanate.

O representantes da Agecef/Rio ressaltaram ainda que a direção da empresa ignorou por meses seguidos diversos problemas apontados pelos trabalhadores que foram encaminhados por ofícios pela Fenag (Federação Nacional das Associações de Gestores da Caixa Econômica Federal). A falta de diálogo com a direção do banco culminou com uma ação judicial por assédio moral institucional impetrada por todas as Agecefs do país.  

Cobrança durante a pandemia

“Tanto nas ações judiciais como nos ofícios, os bancários denunciaram a absurda e crescente cobrança de metas durante a pandemia, com práticas de tortura psicológica, inclusive com a utilização do Whatsapp em horários fora do expediente que violam o direito de desconexão dos trabalhadores”, explicou a presidenta do Sindicato Adriana Nalesso. A sindicalista esclareceu ainda que o ranqueamento, outra questão abordado na ação judicial, foi responsável por uma ação vitoriosa dos Sindicatos cuja sentença determinou que o Banco Itaú custeasse projetos contra o assédio moral no valor de R$ 2 milhões.

Os sindicalistas lembraram que a falta de critério na priorização dos objetivos tem sido uma fonte de adoecimento mental dos trabalhadores. Não fica claro para o empregado se ele tem que priorizar os objetivos da agência, da SEV Superintendência Executiva de Varejo (SEV) ou da Superintendência Regional (SR). A cobrança acima dos objetivos estipulados pela própria empresa também foi abordada no encontro, já que em algumas regiões da cidade inventaram a Alta Performance Alta (APA), na qual o gestor lida com a situação de que, mesmo a obtenção de 100% da meta é ainda considerada insuficiente e isto em plena crise da pandemia da Covid-19.

Outro problema grave apontado pelos empregados é a “mudança da regra do meio do jogo”, como no caso do crédito consignado, cujo objetivo para o convênio INSS foi substancialmente aumentado.

“Nós solicitamos que a Superintendência encaminhe à direção da Caixa o nosso questionamento acerca da responsabilidade da empresa em estipular objetivos que levem os empregados a induzir clientes pertencentes a grupos de risco a saírem de suas casas. Afinal, há uma diferença muito grande entre manter horário de atendimento diferenciado para idosos e atuar ativamente sobre esses clientes induzindo-os a se dirigir a uma agência ou lotérica”, afirma Campanate.

Manutenção do rodízio

Os bancários reforçaram ainda a necessidade de manutenção do rodízio de empregados que não pertencem a grupos de risco no trabalho presencial como forma de minimizar o tempo de exposição dos funcionários ao risco de contágio pela Covid—19 e lembraram que a própria empresa soltou expediente durante a negociação coletiva que reforça essa orientação, a pedido da Comissão Executiva dos Empregados (CEE-Caixa).

“Tem aumentado o número de empregados que se sentem pressionados pela chefia a deixar o trabalho remoto”, explica Rogério. Também foi abordada a questão da diferença entre as diversas unidades, fazendo com que alguns trabalhadores consigam trabalhar em Home Office em tempo bastante superior a outros, ocasionando um tratamento desigual. O Superintendente informou que estão sendo estudadas soluções para equalizar a situação.

Cobranças na crise

Diversas outras informações foram levadas à Caixa, como a necessidade de treinamentos operacionais (Sistema Integrado de Segurança, o SIADS, e atendimento virtual INSS). Um exemplo dado foi o Comitê de Crédito, cuja formulação desconsidera a volumetria de processos da Superintendência de Rede fazendo com que os resultados atrasem havendo cobranças diárias da empresa. Foi apontada ainda pelas entidades a estranheza pela cobrança de resultados em fundos de previdência e investimentos, em um momento que apresentam rentabilidade negativa e tem gerado descontentamento dos clientes.

Interesses dos bancos privados

Uma pesquisa realizada por dirigentes do Sindicato e das Associações identificou que diversos bancos privados e mesmo de investimento não têm cobrado objetivos nesses produtos por compreenderem o momento de retração econômica e crise sanitária.

“Não conseguimos entender porque a direção da Caixa insiste em metas que acabam por empurrar os clientes para os bancos privados por conta da insatisfação com a rentabilidade e com a própria indicação do produto, o que quebra a confiança do cliente com o profissional que o atende”, conclui Campanate, insinuando que o favorecimento aos bancos privados pode não ser tão involuntário quanto parece. 

 

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