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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
Com informações da Contraf-CUT
Durante o Encontro Nacional dos Funcionários do Bradesco, realizado em São Paulo, representantes dos trabalhadores criticaram duramente o processo de reestruturação do banco, que tem resultado no fechamento de agências e em demissões em massa.
O diretor do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro e representante da Comissão de Organização dos Empregados (COE), Leuver Ludolff, destacou a importância da mobilização da categoria e do fortalecimento das entidades sindicais como caminho para resistir aos ataques dos bancos ao emprego e aos direitos dos trabalhadores.
“Já são mais de 2.500 empregados demitidos no Bradesco apenas entre janeiro e julho deste ano. No Rio, foram 178 desligamentos. Isso representa ao menos 12 demissões por dia. Só a mobilização e a unidade da categoria podem garantir a preservação dos empregos e o fim do fechamento de agências e das dispensas”, afirmou Leuver.
Ele também ressaltou a importância da campanha dos sindicatos pelo direito ao atendimento presencial, especialmente nos caixas, o que tem sido desrespeitado pelas instituições financeiras.
“No caso do Bradesco, a situação é ainda mais absurda, com o banco promovendo a campanha publicitária ‘Sacar pra quê?’, em total desrespeito à população, especialmente aos idosos e às pessoas com menor acesso às plataformas digitais”, denunciou.
Outro ponto de preocupação é o crescimento de casos de adoecimento entre os bancários. Segundo denúncias recebidas pelo Sindicato do Rio, o Bradesco tem se recusado a reconhecer o nexo causal entre a atividade profissional e doenças como a Síndrome de Burnout, além de negar a emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) para vítimas de assédio moral.
Entre os principais pontos da pauta de reivindicações aprovadas no encontro estão: a defesa do emprego, o fim do fechamento de agências e melhorias no plano de saúde dos funcionários. O evento, que reuniu cerca de 100 delegados e delegadas eleitos de todo o país, aconteceu no hotel Holiday Inn, em São Paulo, e antecede a 27ª Conferência Nacional dos Bancários, que vai até domingo (24).
Na abertura do encontro, a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, destacou que o maior patrimônio dos funcionários do Bradesco é a unidade para enfrentar os desafios impostos pela reestruturação e pelo avanço da Inteligência Artificial (IA).
“Manter o emprego é uma das nossas principais preocupações neste momento. A reestruturação promovida pelo Bradesco em todo o Brasil, somada à rápida implementação de IA no setor bancário, representa uma ameaça direta aos trabalhadores. Mas também precisamos olhar para lutas mais amplas, como a defesa da soberania, da democracia e da valorização do movimento sindical. Somos fortes o suficiente para eleger representantes que barram o avanço do fascismo e lutam contra a retirada de direitos – como a imposição da jornada 6x1”, afirmou Juvandia, que também é coordenadora do Comando Nacional dos Bancários e vice-presidenta da CUT.
No painel sobre a conjuntura do Sistema Financeiro Nacional, o professor doutor Moisés Marques alertou: “O banco do futuro que se previa há 13 anos já chegou”.
Ele destacou a concentração crescente do setor. “Em 1993, havia 30 grandes bancos no país; hoje, apenas 10 concentram a maior parte do mercado. Além disso, fintechs como Nubank, PicPay e Banco Original ampliaram ainda mais essa transformação”.
Segundo Marques, a Nubank é hoje a instituição financeira de maior valor de mercado da América Latina, com 123 milhões de clientes e custos operacionais muito inferiores aos bancos tradicionais.
“A Inteligência Artificial é usada para aumentar produtividade e lucros. Mas o cliente segue em último lugar. O foco está em fidelizar consumidores e ampliar a automação. E surgem dilemas éticos: qual o limite da substituição de pessoas por tecnologia? O que fazer com o uso abusivo de dados pessoais?”, questionou.
Ele ainda ressaltou: “Por trás da promessa de inovação, o ‘banco do futuro’ não chegou para todos. Para clientes e trabalhadores, a IA pode representar rebaixamento, homogeneização e vulnerabilidade. A disputa não é apenas tecnológica: é uma questão de sociedade, privacidade, emprego e poder em um sistema financeiro cada vez mais concentrado e guiado por algoritmos. Não podemos aceitar isso sem luta”.
O economista e técnico do Dieese na Contraf-CUT, Gustavo Cavarzan, apresentou o Plano Estratégico do Bradesco, que foi implementado após quedas sucessivas no lucro entre 2019 e 2020, e na rentabilidade de 2021 a 2023.
Iniciado em 2024 e com conclusão prevista para 2028, o plano prevê mudanças graduais a cada trimestre, com o objetivo de reposicionar o banco no mercado.
“Para isso, o Bradesco reformulou sua diretoria, trazendo executivos de fora para duas áreas-chave: Negócios Digitais e Recursos Humanos”, explicou Cavarzan.
Apesar da recuperação – o Bradesco lucrou R$ 11,9 bilhões no primeiro trimestre de 2025, 33,7% a mais que no mesmo período de 2024 –, os cortes de pessoal continuam. “Estamos vendo perda de postos de trabalho, intensificação de rotinas com IA e avanço da BIA, a primeira IA bancária do país. É preciso um processo firme de negociação sindical, ou em 2028 teremos um cenário de terra arrasada”, alertou.
Erica de Oliveira, coordenadora da COE, avaliou positivamente o encontro. “Foi um dia rico em debates e trocas com colegas de diversas regiões. Saímos mais fortalecidos para levar essas questões à Conferência Nacional”, disse.
Leuver Ludolff também reforçou a importância do evento: “Vivemos um momento crítico no Bradesco. Este encontro foi essencial para ampliar conhecimento, apresentar propostas e organizar a luta. Só com unidade e organização poderemos defender os empregos e melhores condições de saúde e trabalho”.
Como plano de luta, os participantes definiram o lançamento de uma grande campanha de mídia a ser debatida nas próximas semanas. Entre as prioridades estão: Defesa do emprego; Fim do fechamento de agências; Melhorias no plano de saúde; Valorização dos acordos de CCV e PPR, com assembleias previstas para as próximas semanas